Para Rodolpho Riskalla, saber se adaptar é fundamental para o sucesso

Participar dos Jogos Paralímpicos do Rio,em 2016, era uma meta de Rodolpho Riskalla após, em agosto de 2015, contrair meningite bacteriana, entrar em coma e fazer uma amputação tibial nas duas pernas, além de amputar a mão direita e os dedos da mão esquerda. . “Você usa do esporte para poder se projetar, para você poder continuar”, disse, falando do impacto que o esporte tem em pessoas com deficiência. Riskalla contou sua história em palestra promovida pela Confederação Brasileira de Hipismo, no último sábado 29/01. Na sequência, ele concedeu entrevista em vídeo com o Adestramento Brasil. 

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Para disputar as suas primeiras paralimpíadas, Riskalla teve a sorte de uma amiga francesa lhe emprestar o cavalo. “Fui para os Jogos e fiquei em 7º por equipes e 10º no individual. Fiquei bem feliz”, contou.

No ano passado, nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, Riskalla conquistou medalha prata inédita. Com Don Henrico, ele fez porcentual final de 74,659% e ficou atrás da holandesa Sanne Voets, que fez 76,585% com Demantur. “Tóquio foi incrível. Acho que qualquer atleta de alto nível que vai para os Jogos e ainda volta com medalha, fica muito emocionado. É muito especial”, disse — assista à entrevista na matéria (ou clicando aqui).

Para chegar a esse nível, Riskalla reforçou a necessidade de contar com uma estrutura de apoio, saber escolher quais provas competir e como chegar com o cavalo bem para conseguir se projetar. Por mais que Riskalla fosse do adestramento clássico (ele montava desde criança) e já estivesse competindo nos alto nível, ele não era conhecido no paraequestre. Foi preciso fazer um trabalho de entrar nas provas certas para se tornar um nome difundido na modalidade. 

“É importante pensar em toda esta estrutura; foi com esse trabalho que fizemos ao longo dos anos que conseguimos chegar a Tóquio e conquistar uma medalha. Porque, tendo esta estrutura, quando ocorre algum imprevisto, diminui muito o estresse. E é essa estrutura que vai fazer com que os problemas quase não aconteçam”, disse o cavaleiro, que conquistou duas medalhas de prata na última edição dos Jogos Equestres Mundiais, realizada em Tryon, nos Estados Unidos.  

A estrutura de Riskalla é formada por sua mãe como uma das treinadoras — o outro é um técnico alemão — e sua irmã que se dedica a cuidar do cavalo e a treiná-lo, quando necessário. Para Tóquio, ele optou ainda por também levar a veterinária do Don Henrico. “Foi uma decisão minha para chegar lá e ter a possibilidade de ter o mínimo possível fora do controle”, contou.

As duas medalhas de Tryon — as únicas conquistadas pelo Brasil no WEG — pavimentaram o caminho da dupla para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, postergados para 2021 devido à pandemia da Covid-19. No entanto, sua montaria, o Don Henrico, já tinha idade. “Você tem de se adaptar; isso é chave na nossa vida. Com o cavalo, tem de ser igual”, ressaltou. “Consegui me adaptar em 2020 para estar bem e conseguir uma medalha em Tóquio. Chegar lá para o cavalo foi difícil”, acrescentou.

Na palestra, Riskalla frisou bastante na importância e necessidade de se preparar desde o começo. E isso inclui o treinamento do cavalo e a conciliação entre treinos e seu trabalho na Christian Dior. Com o treinador na Alemanha, Riskalla teve de se mudar. Partiu para o trabalho remoto — a Dior fica em Paris — para poder dividir o tempo com a montaria.

“Para colocar meu treino neste nível, tive de me adaptar. Temos de ter o tipo de conscientização de que não dá para economizar, por exemplo, na comida do cavalo”, disse. “A mensagem principal é que tem um trabalho a ser feito, tem de ir atrás, é difícil, não pode desistir, mas, correndo atrás, a gente consegue. Tem de pensar no lado positivo.”

Ajudas — A adaptação também passa pelas ajudas compensatórias. “Para mim, foi acontecendo ao longo da minha jornada no para. Você vai aprendendo a se adaptar com seu corpo. Hoje em dia, monto com rédeas com laços e seguro com o punho. O freio-bridão é adaptado e seguro uma rédea”, contou.

A dica é sempre checar o regulamento da Federação Equestre Internacional para saber o que é permitido e se adaptar. Para as pernas, que sofreram amputação, Riskalla tem uma prótese adaptada para montar. “São coisas que você vai moldando ao longo da jornada; e você tem de olhar o cavalo para saber também como ele se adapta aos tipos de deficiência. Aí é preciso procurar o cavalo certo para o atleta, porque ele tem de se adaptar para a deficiência”, ressaltou. 

O cavalo ideal — Encontrar o cavalo ideal é outro ponto importante. O animal tem de funcionar para o atleta. Riskalla contou que experimentou cavalos que não funcionaram para ele. “A ideia é ter o cavalo o mais próximo e o mais adaptado para o seu tipo de deficiência.  Por exemplo, no passo alongado, não tenho tempo de largar as rédeas; eu coloco meu corpo para frente, debruçado em cima do pescoço. Demora um certo tempo para o cavalo se acostumar com isso”, exemplificou.

Don Henrico tem sido a montaria principal de Riskalla nas grandes competições, como WEG e Tóquio, mas o garanhão hanoveriano já não está mais jovem — ele completa 19 anos no próximo maio. “Ele está ficando mais velho e terei de trocar, mas não é fácil achar outro que tenha este casamento para estar nos 80% que estamos hoje”, disse.

É igualmente importante que quem, porventura, monte o cavalo de um paratleta, entenda quais são as necessidades dele e trabalhe o animal de acordo com elas. No caso de Riskalla, o cavalo tem de estar ‘à flor da pele’ nas pernas, como ele mesmo relatou. 

Planos — Riskalla vai preparar o Don Henrico para ser sua montaria no Campeonato Mundial do Paraequestre de Herning 2022, na Dinamarca. Ele tinha em vista também preparar a égua Die Wette para competir no grande prêmio no adestramento clássico, mas ela foi vendida, assim como o Don Frederic, outra montaria do cavaleiro. 

Quando compete no tradicional, Riskalla, como paratleta, ele tem o direito de usar as ajudas externas no adestramento clássico, que são as rédeas especiais, os estribos com imã e o chicote. Para tanto, todos os anos, ele precisa formalizar para FEI sua intenção de participar de tais provas e levar às competições seu perfil FEI no qual consta as ajudas que pode fazer uso. 

Recentemente, ele disputou uma prova de grande prêmio com Die Wette em um concurso nacional na Alemanha. Ele havia estreado Die Wette em CDI em setembro do ano passado, quando fez com 69,235% na São Jorge no CHIO Aachen. Em algumas ocasiões, ao longo dos últimos anos, Riskalla compartilhou seu plano de competir no clássico, além do paraequestre.

Agora, ele procura um animal com quem possa competir no GP no clássico e também no paraequestre, porque este deve ser o último ano do Don Henrico em grandes provas, devido à idade.

Na Dinamarca, a meta pessoal de Riskalla, conforme contou em entrevista, é bem realista. “É lógico que a gente sempre quer ganhar, mas, tendo em vista a idade que meu cavalo tem, se eu conseguir manter o pódio, já vou ficar bem feliz”, relatou. Ele acredita na possibilidade de estar entre os três mais bem colocados no Mundial. 

Seu próximo concurso internacional será o CPEDI3* de Doha, Al Shaqab, de 24 a 26 de fevereiro — um evento fechado para convidados.  Será a quarta vez de Riskalla disputando esse grande evento no Qatar, sendo que ele ganhou nos últimos três anos. “Espero ganhar de novo nesse ano. É um dos maiores concursos que tem na temporada. O lugar, a estrutura… é demais.” 

Ter perseverança e ser resiliente, para ele, são fundamentais.

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