“A disciplina nos mantém no foco” — a filosofia de Adriano Soares, que fecha 2023 em crescente no small tour

Adriano Salomão Paiva Soares frequentemente compartilha fotos dele no kung fu em seu perfil no Instagram. A arte marcial, que nasceu na China, aportou ensinamentos ao atleta de adestramento. Isso transparece em algumas de suas frases na entrevista que ele concedeu ao Adestramento Brasil após figurar no pódio nas três provas de small tour do CDI 1* na Coudelaria Rocas do Vouga, no começo de dezembro. “É caminhando que se faz o caminho” e “a disciplina nos mantém no foco” são exemplos de uma filosofia que o cavaleiro imprime nas pistas.

Soares, hoje com 43 anos, começou a montar criança. Tinha uns cinco anos e os primeiros cavalos foram de passeio — uma história comum a muitos atletas. O esporte entrou em sua vida em 2011 na equitação de trabalho; fez poucas provas na categoria amadora e decidiu competir como profissional. “Sempre gostei de desafios e é juntos dos bons que ficamos melhor!”, justifica o proprietário do Haras Monsanto.

Neste ano, estreou em concursos internacionais montando o puro sangue lusitano Jogador do Drosa e se viu em uma crescente. Estreou com notas finais na casa dos 64% e terminou o ano se destacando no internacional de dezembro com 69,905% na inter 1 estilo livre com música, terceiro lugar; com 66,765% na intermediária 1, também terceiro, e com 68,647% na PSJ no segundo lugar. A meta? Estar no Time Brasil no próximo ciclo olímpico.

Leia a seguir entrevista:

Adestramento Brasil — Suas notas aumentaram neste ano, chegando ao ápice no CDI do Rocas do Vouga. A que você credita essa elevação das notas ao longo do ano?
Adriano Soares —
Na verdade, esse planejamento começou há mais ou menos dois anos, quando começamos a treinar com o maestro Roger Clementino e fizemos todo um plano de treinamento e provas. Fizemos nossa estreia [na série forte 2] em dezembro de 2022 no Ranking da SHP e, seguindo nosso cronograma, planejamos nossa estreia em CDI para 2023. Os CDI seriam seletivas para os Jogos Pan-Americanos, então, tivemos esse peso extra. Mas fizemos algumas provas boas nesses CDI e fomos tentando aprender quais os pontos podíamos melhorar. O nosso freestyle, que é a música que o Roger usava com o Sargento do top, fizemos na primeira vez apenas ouvindo e conversando como poderíamos fazer; mas sem treino antes da primeira vez. Acho que estamos evoluindo no ritmo que planejamos e espero que possamos evoluir muito mais para poder alcançar nossos objetivos!

E quais são eles?
Participar do Time Brasil. O próximo ciclo começa em 2026, com o Sul-Americano e depois tem Pan em 2027; e Olimpíada em 2028. Seria a maior honra e sonho poder representar meu País!

>>> Confira o desempenho de Adriano Soares em CDIs

Quais foram seus pontos fortes com o Jogador do Drosa em 2023 e o que ainda precisa melhorar?
Acho que foi a nossa determinação. O Jogador do Drosa é um cavalo muito especial e com um coração gigantesco e nobre; ele tem demonstrado isso ao longo deste ano — o quanto ele se entrega aos treinos e às competições — ele sempre dá o melhor dele. Precisamos melhorar muitas partes da nossa prova para chegar aonde almejamos, mas isso sabemos que é só o tempo e o trabalho que vão nos dar. Então, é continuar focado, trabalhando muito e aprendendo a cada dia. Se fosse citar um exercício, temos que buscar um passo alongado com mais qualidade e descontração, mas temos como exemplo as piruetas à esquerda que, quando começamos, tiramos seis e na última prova tivemos oito; então, é caminhando que se faz o caminho!

2023 marcou sua estreia em CDIs. Por que decidiu fazer internacionais?
Essa era uma etapa já definida no nosso planejamento para entrar em CDI. Para podermos ter toda uma sequência de aprendizado que iremos precisar para o futuro. Tendo que fazer o vet check e mais três dias de reprises, além de poder ser julgado por juízes que normalmente não temos acesso. Porque todos os julgamentos nos fazem crescer e aprender, ainda mais quando os juízes escrevem o porquê dessa ou daquela nota. Eu sempre chego à casa e leio atentamente o que cada um achou para poder melhorar minha nota. E todas as seletivas são feitas no CDI, então, temos que ir entrando para termos essa vivência de atmosfera, para quando chegar a nossa hora, estarmos 110% prontos!

O que você esperava para a sua temporada 2023 nas pistas? Quais eram seus objetivos? eles foram alcançados?
Eu esperava concluir as metas definidas. Para você ter uma noção, fiz a estreia no ranking na reprise São Jorge e depois fiz a estreia da Inter 1 e do freestyle no CDI. Então, como um todo, fizemos um check nas nossas metas e ainda conseguimos fazer algumas boas provas e boas colocações, como o 3º lugar no freestyle e 4º lugar no geral do Campeonato Brasileiro [que também foi CDI] e as provas no CDI da Coudelaria Rocas do Vouga. Mas sempre queremos mais, porque treinamos muito para isso. Saio da minha casa às 5 horas da manhã para treinar e sempre coloco o meu máximo em cada treino, com muita disciplina, porque têm dias que não temos motivação, mas a disciplina nos mantém no foco. Posso dizer que nunca faltei em um treino, vou gripado, cansado, etc., mas nunca deixo de ir. E, quando os resultados começam a aparecer, ficamos felizes, porque sabemos o que passamos para chegar. Nossa meta desse último CDI era figurar no pódio todos os dias e conseguimos realizar. Além disso, tivemos um “plus”, que foi os elogios do Mena ao nosso cavalo, falando o tanto que ele gostou, assistiu a todos os nossos treinos!

Voltando um pouco no tempo, conte um pouco da sua história com o Jogador
Vi o Jogador em uma exposição com o Márcio Alexandre, de quando ele trabalhava no Drosa, e adorei o cavalo, mas naquele momento o Roberto Pedrosa não queria vender. Então, ficou como um sonho adormecido, um amor platônico! No começo do ano de 2020, consegui convencer o Pedrosa a me vender o cavalo e, a partir daí, começou a nossa história juntos. Com o Jogador, consegui fazer minha “conexão avatar” e tenho, como gratidão a ele, colocar ele no lugar que ele merece estar. Nossos treinos são feitos quatro vezes por semana (terças, quintas, sábado e domingo) e sempre após os treinos ele recebe as frutas que ele tanto gosta, além dos cuidados como gelo e massagem no pós-treino — e vai para o piquete. Nos dias que eu não treino (segunda, quarta e sexta ), porque eu trabalho com outras coisas também, ele faz uma caminhada no cabresto sem ninguém montar e repete os pós-treinos de gelo, massagem e piquete. A cada 15 dias (duas vezes por mês), tenho aula com o maestro Roger. E todo mês ele faz quiropraxia para estar sempre alinhado para os treinos!

Quais são suas metas para 2024 com o Jogador do Drosa?
Continuar treinando para poder aprender e evoluir mais dentro da small tour, mas focado em chegar ao big tour. Mas tudo com muita calma e perseverança para podermos, no próximo ciclo, que se inicia em 2026 no Sul-Americano, poder participar do Time Brasil e representar o nosso País. Esse é o nosso maior sonho!

Tem outros cavalos à vista para empistar? Quais? Conte um pouco?
Temos mais dois cavalos guardados como “arma secreta”. O Ophir do Castanheiro (Carriço x Baunilha Comando Sn por Vulcão dos Pinhais), um lindo palomino e que é um ninja! Esse cavalo tem muita qualidade, estamos com ele desde os três anos e estamos fazendo tudo com muita calma para que ele possa chegar bem quando estrear. Gosto muito do caráter dele, além dele ter bons andamentos e muita personalidade, que é o que precisamos para chegar! E há um mês chegou o Purmaco do Drosa (Rubi AR x Jamaica do Drosa por Quixote Mvl). Estamos no início da doma dele e ele já nos mostra algumas características que vimos nele em liberdade e estão se comprovando na doma. Como sempre falo, é caminhando que se faz o caminho; então, devagar e com paciência, vamos preparando esses cavalos para o futuro!

O que o kung fu te ensinou pro adestramento?
A arte da disciplina, de ter que lutar para atingir seus objetivos. Sem dor ou desculpas, porque o kung fu significa arte da guerra. Então, temos que estar preparados para todos os obstáculos que a vida nos proporciona. Além disso, no kung fu tem um grande trabalho mental de concentração e meditação. Uso os pilares marciais do kung fu, que meu mestre Joilson me ensina, para estar em equilíbrio entre corpo e a mente.

Fotos: cedidas pelo cavaleiro | crédito: Jessica Forgach Serwaczak


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