Por Pia Aragão*
“Um plano não é nada, mas planejar é tudo!”
Dwight D. Eisenhower
Ao encerrarmos um ano de adestramento de sucesso para o Brasil, é com tristeza e frustração que também percebemos que a vaga conquistada pelo Brasil para Paris 2024 está perdida. Mais uma vez, não temos uma equipe completa para apresentar às Olimpíadas, apesar de termos nos classificado. Então, o que podemos aprender e fazer melhor no futuro?
Para ter sucesso em qualquer tipo de profissão é importante conhecer muito bem as regras e, mais importante ainda, planejar com antecedência. Especialmente no adestramento, as diretrizes e regras da FEI precisam ser claras para você. Por exemplo: ter consciência de que cavalo só pode fazer small tour a partir dos sete anos e big tour a partir dos oito anos. E, antes de ter o cavalo pronto para o grande prêmio, o cavalo precisa ser ensinado e orientado pelas séries de cavalos novos (5, 6 e 7 anos).
O teste para cavalos de sete anos é igual ao small tour. E, um ano depois, quando o cavalo tiver oito anos, ele pode estar pronto para o big tour, se o cavalo for talentoso e apto, tanto física quanto mentalmente. Há também o medium tour que pode ser bom para muitos cavalos participarem por um período, em vez de ir direto para big tour. A maioria dos cavalos precisa de um ou dois anos no big tour para poder ter um desempenho de alto nível em Jogos e Campeonatos.
A carreira de competição dos cavalos é baseada em ciclos de quatro anos, de uma Olimpíada para outra, por exemplo, de Paris 2024 a Los Angeles 2028. Isso significa que um cavalo, teoricamente, só pode ser autorizado a participar das Olimpíadas de Paris, se nascido em 2016 ou antes ou, no Hemisfério Sul, nascidos antes de 1º de agosto de 2015. Fazer um plano bem elaborado para as Olimpíadas de 2028 significa ter o cavalo pronto para o grande prêmio em 2026, que também é o ano do próximo Campeonato Mundial de Adestramento. Isso também significa que o cavalo deve fazer, pelo menos, reprises da FEI de seis ou sete anos ou a série média dois em 2024.
No studbook ABPSL, a geração “U”, que nasce depois de 1º de agosto de 2023, só pode estar pronta para suas primeiras Olimpíadas (com o treinamento adequado e saúde física e mental em condições corretas) para Brisbane, na Austrália, em 2032, mas, mais provavelmente, para as Olimpíadas de 2036.
Lembramos que 2025 é um ano sem campeonatos regionais. Em 2026, o Sul-Americano ou Odesur será em Santa Fé, na Argentina, e o Campeonato Mundial, entre 11 e 23 de agosto em Aachen, na Alemanha. Em 2027, acontecem os Jogos Pan-Americanos, eliminatórias olímpicas.
Os próximos Jogos Pan-Americanos deverão ser apenas em big tour, o que não seria um problema para o Brasil, já que fomos o único País com quatro cavalos de GP no Pan do Chile de 2023. Até o nosso cavalo reserva estava em nível de GP. Ainda não há informações sobre o formato do Odesur neste momento, mas o Brasil, normalmente, não deveria precisar se classificar para os Jogos Pan-Americanos através do Odesur, já que o nosso País agora está na mesma situação dos EUA e do Canadá com vários cavalos no ranking mundial da FEI listados em CDIs 3* ou mais.
O MER para Paris é de 67% e deveria ter sido alcançado por pelo menos três conjuntos entre o Campeonato Mundial em Herning até 31 de dezembro de 2023. O Brasil só conseguiu qualificar dois e com isso perderá a vaga da equipe para as Olimpíadas de Paris. Agora, os conjuntos buscando uma vaga individual têm até 30 de junho para atingir 67% duas vezes. Acredito que essa regra se aplicará também nas próximas Olimpíadas; e os 67% (que é bastante alto para o Brasil), provavelmente, ficarão ainda maiores.
Planejamento é tudo. E precisamos começar agora a construir um plano robusto sobre como levar uma equipe às Olimpíadas de Los Angeles em 2028. Não podemos perder mais uma vaga na equipe olímpica!
* Pia Aragão é largamente conhecida no Brasil e fora do País pelos seus feitos no adestramento. Foi dez vezes campeã brasileira de adestramento sênior e sênior top; campeã Sul-Americana por equipe em 2014 e vice-campeão Sul-Americana por equipe e individual em 2004; ganhadora do Prêmio Brasil Olímpico por quatro anos consecutivos (2003, 2004, 2005 e 2006); chef d’equipe de adestramento do Time Brasil em 2022 entre outros feitos.
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