Na ausência de provas, os treinamentos dos cavalos de esporte do Haras do Drosa seguem intensos e o criador Roberto Pedrosa enxerga, inclusive, a possibilidade de alguns animais avançarem de série quando as competições retornarem. “Hoje não existe a possibilidade de provas, mas existe a possibilidade de aperfeiçoar os animais para quando as provas forem iniciadas novamente”, disse em entrevista para a série especial que Adestramento Brasil está conduzindo com objetivo de entender como as restrições impostas pela pandemia e a suspensão das competições afetam haras e atletas.
Adestramento Brasil — Conte um pouco a história do haras.
Roberto Pedrosa — Começamos a criar lusitanos há 16 anos. O haras está localizado em Itu (SP), no km 63 da rodovia Castelo Branco. Quando fui adquirir o haras, eu queria algo muito próximo à cidade de São Paulo e estamos a 50 minutos da capital, uma localização estratégica e pensada tanto para fazer provas como para ter cavalos nas hípicas em SP. Durante estes 16 anos de criação de cavalos lusitanos, eu fui por algumas vezes melhor criador e melhor expositor. Neste decorrer, começamos também a selecionar animais para o adestramento e tivemos cavalos lusitanos nossos de destaque, como o Guido do Drosa, que foi campeão com 4, 5 e 6 anos em diversos campeonatos, e Dinoco do Drosa, que foi o primeiro cavalo de criação brasileira a participar do Campeonato Mundial de Cavalos Novos, em Verden an der Aller, na Alemanha, com Rodolpho Riskalla.
Como se deu a entrada na criação de warmblood, de brasileiro de hipismo (BH)?
Com o passar do tempo e a paixão, cada vez mais, aflorando pelo adestramento, há seis anos, resolvemos importar éguas de sangue 100% para o adestramento e das mais requisitadas linhagens e de maior sucesso na Europa. Importamos essas éguas juntamente com sêmens dos melhores garanhões da Europa. Assim, se iniciou uma nova criação de cavalos BH. Na primeira leva de importação, eu trouxe apenas cavalos de adestramento. Eu fui para Alemanha, andamos lá à procura daquilo que mais me agradava e trouxemos essas éguas. Hoje, o primeiro lote de potros BH de adestramento está completando três anos.
Logo na sequencia da importação das éguas de adestramento, começamos a importar algumas éguas de salto. Trouxemos algumas potras e também sêmen de salto. Hoje, o maior banco de sêmen de cavalos da Europa está no Haras do Drosa, tanto de salto quanto de adestramento. Digo que somos um dos únicos que têm sêmens dos mais renomados garanhões como Vitalis, Bretton Woods, Totilas, Glamourdale, Furstenball, Great Scufro. For Romancier, Fursten Look e Sezuan — então, temos a possibilidade de fazer cruzamentos com o que tem de melhor na Europa.
Começamos a participar do Festival Brasileiro do Cavalo de Hipismo e já tivemos a grata surpresa de receber os títulos de melhor criador e melhor expositor por juízes internacionais — Holanda, Bélgica e Alemanha — e com animais de grande destaque.
Com esta empreitada toda de trazer éguas e sêmens de adestramento e salto, começamos uma forte criação com objetivo claro de fazer algo diferente. O Haras do Drosa sempre foi construído aos poucos, nunca foi uma coisa estabelecida e já pronta. Quando adquirimos o terreno, 16 anos atrás, foi construído o primeiro conjunto de cocheiras, depois o segundo, terceiro, a casa-sede, o picadeiro coberto, a pista externa e agora, por último, estamos fazendo mais um conjunto de 18 cocheiras, com maternidade e paddock na frente, bem estilo europeu, onde as éguas vão parir dentro das baias e vão ter uma extensão com piquetes à frente, justamente para fazermos o monitoramento de nascimento e o acompanhamento.
Toda estrutura foi construída durante os anos. Tenho a característica de não parar nunca, sempre estando evoluindo e construindo. Hoje, temos 60 cocheiras em um haras de 18 alqueires e adquirimos uma fazenda próxima, em 2012, com 250 alqueires, onde mantemos as nossas receptoras para, na estação de monta, trazer para o haras para fazer a transferência de embriões.
A quarentena mudou a rotina do haras?
Com a situação da pandemia, a rotina de trabalho no Haras do Drosa não foi alterada. O foco continuou na mesma intensidade, como se fossem ocorrer provas. O que vai ocorrer, provavelmente, são situações de alguns animais serem posicionados em categorias acima do que eles estariam em 2020, avançando de série quando as provas retomarem. Os trabalhos dos cavalos seguem da mesma forma: eles têm trabalho externo, eles têm trabalho de guia e trabalho montado.
Como é o time de profissionais de vocês?
Hoje, a equipe do Haras do Drosa é formada pelo casal de portugueses Manuel Raposeiro e Sofia Giga, que cuidam da parte de todo o desbaste dos potros de adestramento, tanto lusitanos como BH, e eles têm o suporte da Sarah Waddell. E, na parte de salto, temos a Agustina Zubiri, que é uruguaia e conta com o suporte do Rodrigo Chaves. Hoje, o Manuel, a Sofia e a Agustina montam por volta de sete cavalos para um e temos o Pedro, que monta quatro a cinco cavalos por dia.
Quais são os prós e contras de ficarmos sem provas? Como que isto afeta o desempenho dos conjuntos?
Por não ter prova, a ansiedade por parte do cavaleiro se torna maior, mas, ao mesmo tempo, acho que a preparação dos animais fica mais eficiente. Hoje, não existe a possibilidade de provas, mas existe a possibilidade de aperfeiçoar os animais para quando as provas forem iniciadas novamente. É bem claro e visível isto. Vemos pela rotina o interesse em caprichar no treinamento; é um perfil diferente do que se tivesse a pressão das provas ocorrendo junto com os treinos. Então, estamos trabalhando os cavalos para, de repente, fazer o que iam fazer ou avançar uma categoria.
Quais medidas de segurança para preservar a saúde das pessoas foram tomadas no haras para evitar o contágio da Covid-19?
As medidas de segurança que tomamos são as mesmas adotadas por todos: uso de máscara, álcool em gel e não temos circulação de pessoas, porque todas as pessoas que trabalham no haras moram no haras. Então, esta preocupação e a situação de contágio ela é praticamente nula no haras. Nossos cuidados são rigorosos.
Vocês também estão com criação na Europa?
Nestes seis anos de criação de BH, a gente montou uma estrutura na Alemanha com uma pequena criação. São sete cavalos em cocheira e oito potros. Dos encocheirados, têm alguns que aprovamos como garanhão. Os animais que estão estabulados lá ficam aos cuidados do cavaleiro João Moreira. Trata-se de outro projeto que segue junto com o projeto do haras no Brasil e queremos estar em provas na Europa com estes cavalos. A ideia era entrar neste ano, mas, com a situação da pandemia, travou tudo.
Fotos: divulgação / acervo pessoal
SÉRIE ESPECIAL DE ENTREVISTAS — Quando o surto da Covid-19 chegou ao Brasil, as competições pararam e, para tentar frear o avanço da doença, a quarentena foi decretada. Contudo, quem lida com cavalos atletas sabe que o trabalho precisa seguir. Para entender como o período de pandemia está afetando profissionais e haras, Adestramento Brasil preparou uma série de entrevistas com diferentes coudelarias, amazonas e cavaleiros. Todas as entrevistas publicadas nos próximos dias estão reunidas nesta página.