Tratador tem de gostar de cavalo e entender por que cada atividade é feita

Entender por que cada atividade está sendo feita com o cavalo e saber da importância da rotina, como horários e quantidade correta de alimentos, dos cuidados e da higiene das instalações são características da profissão de tratador. Esse profissional tem papel fundamental para o bem-estar do cavalo e também para o sucesso dos conjuntos nas pistas. Mas, no Brasil, a formação técnica ainda não é uma prerrogativa para o exercício do trabalho e os tratadores acabam aprendendo com os colegas. Com o curso “Cuidando de Cavalos”, a Horse Guide busca mudar este cenário e fomentar a formação de quem cuida daqueles que brilham nas pistas.

“No curso, enfatizamos a importância de eles entenderem o porquê das atividades, pois só assim passam a valorizar o que tem que ser feito — e não apenas porque o chefe está dando uma ordem”, diz Marianna Mietto Mendes Oristanio, zootecnista, com MBA em gestão de pessoas e liderança pela Fundação Getúlio Vargas. Confira a seguir entrevista com ela sobre a importância da formação da mão-de-obra dos tratadores.

Adestramento Brasil — Como você avalia que está a mão de obra brasileira de tratadores?
Marianna Mietto Mendes Oristanio —
Na minha opinião, o trabalho de um tratador exige esforço físico. Só quem já bateu uma baia (bem-feita) sabe o que é; pegar feno (molhar); levar e trazer um cavalo de piquete, tudo exige, sim, do nosso corpo. Portanto, tenho visto que os tratadores que estão chegando ao mercado de trabalho têm dificuldade em se adequar às atividades. Outro fator muito importante é a falta de comprometimento com a rotina dos animais, como horário e quantidade correta de alimentos, pois um erro pode ter graves consequências na saúde dos cavalos.

Por isso, no curso enfatizamos a importância de eles entenderem o porquê das atividades, pois só assim passam a valorizar o que tem que ser feito — e não apenas porque o chefe está dando uma ordem. Já os tratadores antigos, aprenderam a realizar atividades de um jeito, mas, agora, com mais acesso à informação, sabemos que existem maneiras melhores de executá-las. Mas mudar isso na rotina de um tratador mais antigo não é uma tarefa fácil.

Qual é a importância de profissionalizar a mão de obra de tratadores?
Primeiramente, para melhorar a qualidade de vida dos cavalos. Além disso, o resultado de um conjunto em uma prova está diretamente ligado a como ele está sendo cuidado fora das pistas.

Por que ainda muitos tratadores não buscam cursos e uma formação educacional?
A maioria dos tratadores tem o nível básico de estudo, alguns não terminam o ensino fundamental. Com isso, acredito que quem tem que buscar aprimorar a equipe de tratadores é o gestor. Através da experiência na realização de cursos pude observar que os tratadores se sentiram valorizados pela gestão do clube ter proporcionado esse momento de aprendizado a eles.

Vejo muito que os ensinamentos acabam sendo passados de um para outro, informalmente. Quais são os benefícios e riscos desse processo de aprendizagem?
Primeiramente, temos que entender quem está passando esse conhecimento. Se é um tratador experiente, que tem formação e capacidade técnica para transmitir a informação, não vejo problema, porém, o gestor tem que identificar quem na hípica tem essa capacidade. Essa pergunta é muito interessante, porque, no curso realizado, a turma dos novos tratadores relataram que percebem que os mais antigos não querem ensinar tudo o que eles sabem com “medo” de que o mais novo possa ocupar o seu lugar.

Já, quando estava com a equipe dos mais experientes, percebi que algumas atividades eles faziam de uma forma antiga, que não é mais utilizada, portanto, estariam ensinando os mais novos de forma “equivocada”. Assim, aproveitei a “deixa” para falar para os mais antigos da importância de se atentar aos mais novos, quando virem que estão fazendo algo que possa prejudicar a saúde do cavalo ou do tratador, lembrando que quem agrega para a equipe, como, por exemplo, auxiliando o próximo, também se destaca.

O que os tratadores devem saber antes de começar a profissão?
Que estão lidando com um animal de grande porte, que não é racional e que depende dos cuidados dele para sobreviver. Eles têm que entender que para o esporte ou lazer nós tiramos o cavalo da sua forma natural de vida e, portanto, temos que cuidar deles da melhor forma possível. Por isso, a primeira coisa que falo é: tem que gostar de cavalo.

Outra coisa que converso com eles é que o cavalo virou um pet, então eles estão lidando com o sentimento/emocional do seu cliente, além de um alto valor comercial. E que, quando um cavalo tem um bom resultado no esporte que pratica, o tratador é o principal responsável por isso! Porque é a partir dos bastidores que o cavalo consegue executar um bom trabalho com quem irá para a pista com ele.

Conte um pouco sobre como é o curso de formação dos tratadores.
O curso se chama “Cuidando de Cavalos”, que pode ser feito para formação e reciclagem de tratadores, mas deveria ser um curso também feito por proprietários, gestores de hípicas e cavaleiros, pois é necessário ter o conhecimento e saber fazer para exigirem e identificarem se seus funcionários estão trabalhando da forma correta. O principal foco do curso é o cavalo, porque acreditamos que, a partir do momento em que as pessoas conhecem e compreendem as necessidades desses animais, eles terão melhor qualidade de vida. Dessa forma, abordamos desde a história do cavalo até o esqueleto e o sistema digestório dos equinos, explicando o porquê de alguns manejos. Falamos também sobre a importância dos cuidados e da higiene das instalações, segurança e responsabilidades do tratador e postura deles perante os clientes.

Esse conteúdo foi produzido por Adestramento Brasil com o patrocínio da Horse Guide

Foto: cedida Horse Guide

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