Tudo que você precisa saber sobre o exame de compra

Comprar um cavalo para esporte não é uma tarefa fácil. Além da dificuldade em encontrar um animal que faça conjunto e atenda às necessidades e às particularidades de cada amazona ou cavaleiro, o cavalo precisa estar saudável e ter condições físicas que o permitam responder às expectativas do futuro dono. Uma das etapas essenciais no processo de compra é a realização do exame veterinário.

O exame de compra é essencial, porque avalia a saúde do animal como um todo e detecta problemas específicos que possam comprometer o rendimento físico. “Como o investimento com compra, manutenção e demais despesas com o cavalo são relevantes, este exame é considerado uma ferramenta imprescindível para evitar que seja adquirido um animal que necessitará de tratamentos veterinários inesperados, que terá menor vida útil esportiva do que era pretendido pelo comprador ou mesmo que tenha algum problema que o impossibilite de exercer determinada função”, ressalta a veterinária Emilia Ramos, especialista em equinos e medicina clínica e esportiva.

Para Márcio José Monteiro Corrêa, médico veterinário que atua em medicina esportiva de equinos e radiologia de equinos desde 1997 e é inspetor oficial da ABQM, ABCCARABE, ABCPAINT e ABCCAPPALOOSA, o termo exame de compra seria mais adequado se fosse denominado de avaliação de pré-compra. “De fato, se trata de um conjunto de avaliações realizadas por profissionais que irão culminar na decisão em se adquirir um cavalo ou mesmo fazer triagem de alguns animais, quando se pretende ter mais de um cavalo, e assim submetê-los a atividades afins para somente após um período de treinamento seria possível determinar seu real potencial de cada indivíduo”, explica.

A aquisição de um cavalo não deve ser feita de forma simples e subjetiva, como pela aparência ou mesmo por informações prévias de desempenho, principalmente, quando se tem como objetivo fazer uso dele em atividades esportivas. A avaliação tem de ser bastante cuidadosa e embasada em informações concretas, feita por médico veterinário, que é o profissional com a competência técnica de avaliar e determinar potenciais riscos que o cavalo poderá ter quando for submetido à atividade atlética.

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Nesta etapa, é muito importante que o comprador seja claro com o veterinário a respeito das intenções que tem para o animal, porque cada modalidade possui uma exigência específica e exigem mais ou menos de determinadas regiões, que, por consequência, podem estar comprometidas. Além disto, um animal lesionado não deve ter o mesmo preço de venda de um cavalo sadio.

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Emilia Ramos: “Quando sou solicitada a executar um exame de compra, preciso saber primeiramente o objetivo do comprador, aonde se pretende chegar com ele” – Crédito da foto: Beatriz Schaeffer

O profissional veterinário deve avaliar o animal para dizer se está saudável e apto para a função a qual se destinará. “Quando sou solicitada a executar um exame de compra, preciso saber primeiramente o objetivo do comprador, aonde se pretende chegar com ele. Isso porque, quando vou conhecer o animal, preciso ter uma ideia muito clara se ele tem condição física de alcançar a pretensão do proprietário, por quanto tempo e se existe algum indício de que vá desenvolver alguma lesão”, afirma Emilia Ramos.

Entendendo o exame
A avaliação veterinária pode ser dividida entre o exame físico e os exames complementares, mas o que orientará o veterinário é a finalidade do animal, ou seja, entender se o cavalo está ou não apto para a função e prática desejada. Durante o exame físico, o veterinário visita o cavalo e o avalia em todos os seus sistemas e também o submete a um teste físico para avaliação locomotora. “Neste teste, o cavalo tem as articulações de seus quatro membros flexionadas isoladamente e é convidado a trotar para avaliação de claudicação. Há opção de realizar-se teste dinâmico com o animal em movimento por meio de guia em picadeiro e também com o animal montado”, detalha Ramos.

Quanto aos exames complementares, os mais comuns são o raios-X e o ultrassom. “Estes sempre complementam o exame físico e nunca excluem a necessidade do mesmo. As radiografias que mais comumente são recomendadas para o exame são as de articulações rádio-cárpicas, intercárpicas, carpo-metacárpicas, metacarpofalangeanas, femuro-tibio-patelar, tibio-társica, tarso-metatársica, metatarsofalangeanas, interfalangeanas e cascos, em projeções diversas. Já as ultrassonografias são recomendadas quando houver suspeitas de lesões em tecidos moles, como tendões e ligamentos, o que não será detectado pela radiografia, exceto casos onde há mineralização de ligamentos”, diz a veterinária.

Márcio Corrêa acrescenta que se deve, inicialmente, submeter o animal a uma anamnese, compilando informações e históricos clínicos que possam ser relevantes, seguindo para uma avaliação de conformação para avaliar sua movimentação desde ao passo, trote, movimentação em círculos, quando for apropriado, ao galope e sua dinâmica no salto. “Clinicamente devemos ser minuciosos, fazendo testes clínicos de articulações, musculaturas e ossos, sempre relacionando os achados clínicos a função ou modalidade esportiva deste cavalo, onde nas atividades físicas de alto desempenho, seu esforço poderá variar, sendo na velocidade, capacidade de saltar, manobrar, arrancadas ou reduções de velocidade de forma abrupta”, relata.

Além do exame clínico apropriado, poderão ser necessárias informações adicionais sobre a saúde e potencial atlético desse cavalo, isso só é possível por meio de exames complementares que o veterinário deverá determinar. “Dependendo da atividade que o animal exerce teremos diferentes estruturas e também diferentes tipos de exames que poderão ser realizados. Entre os exames complementares mais comumente realizados e de fácil acesso, podemos citar exames radiográficos, ultrassonográficos, ecocardiográficos, endoscópicos e laboratoriais”, diz Corrêa.

O compilado dessas informações poderá dar maior segurança ao futuro comprador na sua tomada de decisão, minimizando a possibilidade de que se adquira um animal com maior potencial em sofrer lesões por esforço ou mesmo adquirir equinos que já possuam alterações que os predisponham a uma curta vida atlética.

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Márcio Corrêa: termo seria mais adequado se fosse denominado de avaliação de pré-compra

Do lado do comprador
Além do exame feito por veterinário, o comprador deve observar no cavalo e fazer quantas visitas forem possíveis. A orientação é para não apenas o interessado montar o cavalo como pedir a outra pessoa para poder olhar o cavalo. Neste momento, deve-se observar o comportamento do animal enquanto se movimenta, notando suas dificuldades e reações e, sempre que possível, levar um treinador profissional de confiança para opinar sobre o cavalo. “Grande parte de problemas físicos aparecem como assimetrias e desarmonias na movimentação, então, é importante tentar percebê-las”, diz Ramos.

Uma boa conversa com o vendedor também ajuda. Pergunte ao proprietário sobre o histórico do cavalo, quais doenças teve, se apresentou cólica, se está habituado ao exercício, se já recebeu algum tipo de tratamento. “Uma vez escolhido um animal pretendido para compra, até chamar o veterinário para realizar o exame, observe ao máximo os padrões do cavalo. Como ele se comporta, se os membros estão normais ou apresentam algum inchaço antes ou depois de montar, se houve alguma reação ao montar, se foi percebida alguma manqueira, se há cansaço no exercício? Estes são alguns exemplos, mas quanto mais vezes for possível visitar o animal pretendido, mais fácil fica para o comprador detectar se algo errado acontece e, assim, pode avisar ao veterinário e o exame será realizado da maneira mais eficiente para ambos”, indica Emilia Ramos.

Além disso, Márcio Corrêa faz um adendo importante: “Para aqueles que nunca possuíram um cavalo, é preciso verificar, primeiramente, a real necessidade de se adquiri-lo e, seguindo em paralelo a esse fator, saber o destino e/ou função que ele quer dar a esse animal. Convém orientar o futuro comprador que os cavalos são animais com exigências de manejo muito próprias, necessitam de cuidados e ambientes apropriados onde haja profissionais com experiência e dedicação permanente. Falha em atender a essas exigências pode acarretar no surgimento precoce de problemas, da mesma forma trará rapidamente frustração e prejuízo ao comprador do animal”, lembra.

 Itens observados no exame
– avaliação da harmonia das formas, simetria dos músculos e aprumos, escore corporal, comportamento
– visão, audição, coloração de mucosas, marcas em comissuras labiais que podem indicar um animal reagindo demais à embocadura
– desgaste dos dentes incisivos para checar idade declarada pelo vendedor de cavalos que não possuem registro
– condição dos cascos: tipo de ferradura e, sendo corretiva, deve-se saber o motivo e condição da sola
– pinçamento dos cascos em caso de dúvida se o animal sente dor na região ou suspeita de síndrome navicular
– observação de aumentos articulares e em regiões de tendões e ligamentos
– apalpar toda a extensão da coluna, buscando perceber lombalgia, sendo ainda observadas irregularidades ósseas em geral
– saúde da pele e pelo
– se o cavalo for garanhão, observar se os dois testículos encontram-se na bolsa escrotal
– se for fêmea com suspeita de prenhez, poderá ser palpada a pedido do comprador
– testes físicos por meio de flexões articulares, onde haverá exacerbação de claudicação caso haja
– testes dinâmicos à guia ou montados para analisar se o animal tem alguma dor ou dificuldade ao movimento a passo, trote e galope
– detecção de ruídos respiratórios e intolerância ao exercício

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2 respostas para ‘Tudo que você precisa saber sobre o exame de compra’

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