O passo livre é um movimento que consta em todas as reprises, mas como fazer um bom passo livre, sem que o cavalo trote ao ficar com as rédeas largas, sem que ele faça ziguezague ou levante a cabeça? Essa foi a pergunta feita por um amador e enviada ao cavaleiro profissional Bruno de Certaines para responder. Bruno de Certaines é cavaleiro profissional de adestramento há mais de dez anos, ministrando aulas e clínicas trabalho de plano e adestramento no Clube Hípico de Santo Amaro. Em 2018, sagrou-se vice-campeão paulista vice-campeão brasileiro na série forte 2. Confira as dicas:
“Antes de ser uma figura imposta nas reprises de adestramento, o passo livre é uma andadura fundamental que pontua vários momentos do trabalho do nosso cavalo. O passo é uma andadura na qual a cabeça do cavalo está esticada para frente e para baixo , com o chanfro na frente da vertical, o que providencia um relaxamento das costas do cavalo e um engajamento maior dos posteriores evidenciados pelo maior grau de transpiste.
O passo livre deve ser utilizado nos 15 primeiros minutos de trabalho para permitir o aquecimento progressivo dos músculos e das articulações do cavalo, frequentemente, necessário após 23 horas de confinamento do mesmo em uma cocheira. Durante o treinamento, a finalidade do passo livre é providenciar um momento de descanso e relaxamento físico e psíquico entre dois exercícios que exigem mais coleção, reunião, concentração e, portanto, ele deve ser utilizado várias vezes no decorrer do trabalho. São “recreações” de suma importância que permitem resgatar a capacidade de concentração do cavalo, assim como, providenciar um relaxamento dos músculos do dorso e também evitar um cansaço podendo afetar a integridade física do mesmo. Ao final do treinamento, o cavaleiro também deve dar mais de dez a 15 minutos de passo livre para o seu cavalo antes de levá-lo à cocheira para garantir o “esfriamento” do mesmo.
Como acabamos de ver, o passo livre, pelas suas características, é, em principio, uma das figuras mais “treinadas” com o nosso cavalo e não deveria representar um grande desafio. No entanto, muitas vezes, vemos cavalos tensos no dorso, com instabilidade de posição de cabeça, apresentando irregularidades de ritmo, podendo até sair ao trote. Nestes casos. podemos deduzir que as supostas “recreações” dadas para o cavalo durante o treino não são bem administradas, o que provavelmente afeta a qualidade do trabalho do cavalo como um todo.
Muitas causas podem explicar as deficiências do conjunto na figura do passo livre, mas concentrarei em duas delas que, ao meu ver, representam oportunidades ímpar de melhoria do passo livre.
Uma das mais frequentes razões é física e, portanto, fácil de sanar: poucos cavaleiros são atentos à importância do comprimento correto da rédeas usadas. Se pode afirmar que, na maioria dos casos, as rédeas padrão de 1,3 metro de comprimento não permitem a execução de um bom passo livre. Com efeito, mesmo conduzido de rédeas soltas, o cavalo auto limitará a extensão do pescoço, caso ele sinta que pode encontrar a mão do cavaleiro, o que acontece quase que automaticamente com este comprimento de rédeas. Em consequência, ele conservará um certo grau de tensão no dorso (e na mente), favorecendo os erros de irregularidade e estabilidade já comentados; além de interferindo negativamente sobre a sequência dos exercícios. Na minha experiencia, um comprimento de 1,5m de rédeas garante uma extensão máxima de pescoço, não somente no passo como também, quando necessário, no trote e no galope.
Uma outra razão é que os momentos de recreações dos cavalos não são aproveitados como oportunidades de aprendizagem/correção. Estes momentos deveriam ser usados por exemplo para construir/exercitar a retidão do cavalo, que não é nada natural no passo. De fato, se observamos um cavalo pastando em liberdade, nunca o veremos andar reto, mas, sim, variar continuamente de direção. Os únicos momentos onde o cavalo anda reto são quando ele tem um propósito especifico, tal como beber, por exemplo, o que dificilmente acontece no meio de uma pista. Este trabalho se dá pedindo para o cavalo vários desenhos, como, por exemplo, linhas retas na pista, diagonais e linhas quebradas, onde gradativamente as ajudas de assento, pernas e voz ganham significado e, progressivamente, se sobrepõem às ajudas de mãos.
Conclusão: se pode dizer que o passo livre corretamente executado é uma das pedras angulares sobre a qual é construído o treinamento do cavalo. Quando bem feito, ele tem um efeito muito benéfico sobre o trabalho do cavalo e representa, ao mesmo tempo, uma recompensa para cada exercício efetuado e uma preparação dos exercícios seguintes.”
A seção Pergunte ao expert tem como objetivo responder a dúvidas enviadas pelos leitores. A cada questão selecionamos um atleta profissional para respondê-la. Tem alguma pergunta? Envie para contato@adestramentobrasil.com
Foto: Thais Cerioni