A hiperflexão de pescoço do cavalo obtida por meio de força é uma prática não aceita pela Federação Equestre Internacional, mas ainda vista nas pistas. Controverso, o rollkur sempre volta às discussões. Você sabe o que é e entende suas implicações para o animal?
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Há uma década, a Federação Equestre Internacional levou a cabo um debate profundo sobre o que chamou de “a controvérsia do rollkur”, culminando na publicação de um documento oficial sobre o tópico. Antes disso, contudo, a hiperflexão já havia sido foco de reuniões (confira as publicações).
Em 2010, a entidade afirmou que, após um debate em uma mesa redonda da FEI na sede do Comitê Olímpico Internacional, em Lausanne (Suíça), em 9 de fevereiro daquele ano, o consenso do grupo foi que qualquer posição de cabeça e pescoço do cavalo alcançada por meio de força agressiva não é aceitável.
O grupo redefiniu hiperflexão / rollkur como a flexão do pescoço do cavalo obtida por meio de força agressiva, sendo, portanto, inaceitável. Já a técnica conhecida como long, deep and round (LDR), que atinge a flexão sem força indevida, é aceitável. O grupo concordou unanimemente que qualquer forma de equitação agressiva deve ser penalizada e também enfatizou que a principal responsabilidade pelo bem-estar do cavalo é do cavaleiro.
A então presidente da FEI, sua Alteza Real a princesa Haya, aceitou uma petição de 41.000 signatários contra rollkur apresentada pelo Dr. Gerd Heuschman. Leia o documento aqui.
Apontamentos sobre rollkur
No rollkur, o nariz começa a desaparecer atrás da vertical e o cavaleiro encurta as rédeas para pedir mais reunião, ficando o pescoço e a cabeça em forma de “u”. Não há flexão ou maleabilidade envolvida; e esta estrutura é falsa, explicou o blog Dressage Discussions – leia aqui.
“Esta não é uma estrutura profunda e relaxada que permite que o cavalo se alongue nas costas, mas ele começa a puxar o nariz para o peito e não permite o movimento correto para a frente. O cavalo, logo, aprende a ficar atrás da vertical, do bridão, e o cavaleiro confunde falta de contato com autossustentação, que é um contato suave, já que o cavalo trabalha sobre as costas e se movimenta impulsionado pela extremidade traseira. É um equilíbrio perfeito entre cavalo e cavaleiro, sem que um se apoie no outro. Puxar o rosto de um cavalo para baixo atrás da vertical e pensar que é uma carruagem é apenas o começo do problema”, completa o texto.
Em uma recente entrevista em vídeo ao Adestramento Brasil, a veterinária e criadora Adriana Busato, ressaltou que a hiperflexão não é uma boa prática e que, às vezes, quem monta está passando dos limites e não chega a perceber. “A tal da rédea alemã é uma desgraça. Quando menos se percebe, o cavalo coloca a nuca no peito e está com o pé lá no fundão e não está funcionando. Se quebra a frente e o pé fica lá atrás”, disse.
“No adestramento, que se usa freio-bridão, uma embocadora mais violenta que o pessoal do salto usa, e o formato do equilíbrio do cavalo é um pouco diferente, as pessoas ‘quebram’ os cavalos com o pescoço alto, na nuca, e o cavalo continua alto e com a cabeça colada no pescoço. O pessoal do salto ‘quebra’ o cavalo para baixo, deixam o pescoço descer até o máximo que der e daí quebra lá embaixo. Os dois são ruins, mas acho que o pescoço baixo é menor pior”, destacou.
Assista ao trecho quando ela comenta de rollkur:
Em um artigo assinado pelo alemão Josef Knipp, juiz aposentado da FEI, sobre os elementos clássicos do treinamento de adestramento, a Dressage Today tocou em um ponto crítico: “alguns dizem que a equação clássica teve seu dia. É antiquado e deve dar espaço para conceitos modernos e novos métodos, como rollkur (hiperflexão). Mas aonde isso leva? O cavalo não mudou em todo esse tempo, mesmo que a qualidade tenha melhorado por meio da criação seletiva. Nos séculos 16, 17 e 18, a base da nossa equitação foi estabelecida, então, desenvolvida e aprimorada. Métodos como rollkur são tentativas de treinar por meio da coerção e da força. Eles esperam acelerar a curva de aprendizado e vender cavalos mais rapidamente”, diz o texto.
Já o site Dressage Different postou, em 2013, um texto (leia aqui) comparando o rollkur com a absoluta elevação de pescoço. “Este não é um artigo sobre os males do rollkur, mas, sim, sobre a prática menos sensacionalista publicamente, mas não menos prejudicial, da elevação absoluta”, diz o texto. “Essencialmente, elevação absoluta e rollkur são atalhos no treinamento. Nenhum cavalo deve ter sua cabeça e pescoço em qualquer posição extrema por um longo período de tempo e haverá repercussões físicas se eles forem forçados a isso. Rollkur é uma posição extremamente profunda e baixa, a elevação absoluta é uma posição extremamente alta e traseira”, continua.