O período entre a doma e a iniciação do cavalo no esporte é uma fase extremamente importante para a formação do animal. Qualquer erro ou antecipação pode impactar o resto da vida do animal. Por isto, paciência e muito conhecimento são ingredientes-chave neste processo. “Tem de entender o tempo de cada cavalo”, ressalta o cavaleiro profissional Daniel Biasini, acrescentando que conhecer a genética do animal também é fundamental na preparação do animal.
Um dos pré-requisitos para se conhecer um cavalo é analisando sua genética. Mesmo sem ver o animal, ao saber quem são seus pais e avós, podem-se fazer suposições sobre sua índole e seu temperamento. Assim, ao iniciar um treinamento, o profissional deve pesquisar a linhagem do animal, porque o conhecimento acerca das características e aptidões das linhagens fornece indicativos importantes que vão direcionar o trabalho do profissional.
“Temos sempre de olhar a genética, porque ela vai nos indicar como deveremos trabalhar. Há cavalos de sangue mais quente que você não se pode, por exemplo, entrar nele como entramos em outros cavalos”, diz. “Tem linhagens que são mais fáceis e outras, mais difíceis”, completa Biasini.
No início do treinamento, ao mesmo tempo em que o trabalho precisa ser diário, deve-se ter sensibilidade para perceber as respostas do potro e saber como ele está assimilando as lições, pois é o próprio animal que indicará quando avançar com o treinamento. Em um primeiro momento, trabalha-se na guia com cabresto apenas.
Tudo é uma questão de o cavalo se acostumar com o trabalho para poder mudar para o próximo exercício. Para o início do treinamento montado, Biasini, que leva 16 anos na profissão, prefere trabalhar em dupla, com ele rodando o cavalo e um cavaleiro experiente montado, mas sem rédeas para o animal se habituar.
Somente após o cavalo ganhar confiança e entender o que está acontecendo, mas ainda no cabresto e sem embocadura, começa-se a ensinar comandos, como de virar e parar. A cabeçada com bridão vem depois que o aprendizado estiver consolidado.
“Gosto de mexer com cavalos a partir dos 2,5 anos, primeiramente, apenas no cabresto e, depois que estiver bem, inicio com alguns materiais, como a manta e a cabeçada. É preciso também dar tempo para deixar o potro se acostumar com a cabeçada e a embocadura, sempre só bridão”, explica Biasini.
Outra dica é fazer este trabalho inicial em picadeiros pequenos, de preferência, fechados, ou redondéis para passar a sensação de segurança ao cavalo e deixá-lo mais concentrado e com menos distrações.
A base de tudo
Passada esta fase de iniciação, começa-se o trabalho de base do cavalo. E, de novo, ter paciência e respeitar o tempo de cada cavalo são condições necessárias para se alcançar o sucesso. “Às vezes, meus cavalos são mais lentos, mas, quando chegam, qualquer amador monta. Um bom trabalho de base também é essencial para ter resultado lá na frente”, completa.
Isto significa que o cavalo, antes de qualquer outro movimento, precisa ter definidos o passo, o trote e o galope. E, para passar do passo ao trote e do trote para o galope, o cavalo precisa apresentar flexibilidade, dar as costas. “Como vou ensinar um ceder à perna se ele não estiver flexível”, assinala o cavaleiro.
Cavalos para amadores
O principal público comprador de animais de esporte são os amadores, ou seja, amazonas e cavaleiros que treinam e competem por lazer. Este público é formado tanto por pessoas que montam praticamente a vida toda como por quem começou há pouco tempo a praticar hipismo. É por isto que o cavalo para amador precisa ser trabalhado para se ajustar a diversos perfis e equitação.
O cavalo para amador deve ser manso e, principalmente, confiar no cavaleiro — e esta confiança vem do trabalho de doma. “A cabeça é o principal do cavalo. Fazendo na doma um trabalho para que cavalo confie em quem estiver montado, qualquer amador vai montar”, aponta Biasini, detalhando que uma rotina balanceada de treinos é primordial neste processo.
O cavaleiro conta que gosta de proporcionar aos cavalos uma rotina variada e intercalada, que alterna trabalho de guia para os cavalos soltarem a musculatura, ensinamentos na pista e passeio para desestressar e sair da mesmice de ficar só na pista. O cavalo com boa cabeça deixa as pessoas montarem e não tem medo das coisas.
Biasini leva 16 anos na profissão, já tendo sido por quatro vezes campeão brasileiro na equitação de trabalho na série de cavalos novos e intermediária e campeão brasileiro no adestramento série elementar profissional, entre outros títulos. Atualmente, ele tem um centro de treinamento em parceria com o Rancho Bonanza em Atibaia (SP).
Este conteúdo foi produzido por Adestramento Brasil e tem o patrocínio do Centro de Treinamento Daniel Biasini e do Rancho Bonanza.
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