A quinta etapa do Ranking de Adestramento da Sociedade Hípica Paulista, no início de julho, deu o que falar. O burburinho foi em torno da volta de Comanche AMM às pistas, executando prova de grande prêmio na sela de Mauro Pereira da Silva Júnior. E mais: o conjunto finalizou a reprise com porcentual final de 68,841%, sendo 67,609% com a juíza nacional Lindinha Macedo, 70,870% com a juíza FEI 4* Claudia Mesquita e 68,043% com o juiz estadual Sergio de Fiori. Assim que os resultados da participação do conjunto saíram, uma notícia de Adestramento Brasil de 2018 voltou para as mais lidas.
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Na entrevista em agosto daquele ano, o cavaleiro contou que tinha como meta colocar Don Enrico AMM na equipe para os Jogos Pan-Americanos de Lima em 2019 — o que, efetivamente, ocorreu — e disse que Comanche AMM não havia aparecido nas provas naquele ano, porque estava sendo treinado em casa para as competições de grande prêmio, visando aos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020. No meio do caminho, houve uma pandemia que paralisou planos de muita gente. E a esperada estreia se deu anos depois, em julho de 2022. Adestramento Brasil conversou com o cavaleiro.
Leia a seguir os planos dele para o conjunto:
Adestramento Brasil — Em 2018, você disse que o Comanche AMM estava treinando em casa para GP… os planos foram postergados? O que aconteceu?
Mauro Pereira da Silva Júnior — Se eu não me engano, a última prova que fiz com ele foi small tour em um CDI 3* em 2017. Fazia pouco tempo que eu tinha subido ele para São Jorge, tinha sido no início daquele ano de 2017; fui fazendo alguns rankings e fiz o CDI. Depois disso, ele voltou para casa e começou a sentir o casco de uma das mãos. Com o passar do tempo, esta lesão foi piorando. Ele sentia, a gente parava ele e, quando melhorava, voltava a treinar. Nos intervalos de tempo que dava para montar, eu fui agregando exercícios de grande prêmio, porque, desde o começo, eu senti nele uma finura. Ele sempre foi um cavalo fino, com trote de trabalho mais ajoelhado, o que facilitou para a chegada para passage e ele também tinha finura para o piaffe. Então, esses foram os primeiros exercícios que comecei a colocar nele. Ele tinha uma certa facilidade. Daí ele parava de trabalhar quando ele sentia o casco e, quando voltava, eu ia agregando mais um pouco. Levou todo esse tempo agregando exercícios. Ele ficou também um longo período parado, não sabíamos se aposentávamos ele… até que ele foi operado do casco. Faz dois anos que estou com ele trabalhando. Ele voltou superbem e me deu sequência de trabalho para eu poder, de fato, colocar os exercícios que eu já tinha somente iniciado.
Como foi estrear ele depois de tantos anos?
Foi um misto de emoções. Olhar para trás e ver tudo que ele passou. Um cavalo praticamente desacreditado, que ninguém mais se lembrava dele, que chegou a ter a aposentadoria decretada por duas vezes, mas com a força da fé, a boa-vontade da dona Anna [Mantegazza], a gente conseguiu voltar ele ao trabalho. São dois anos que temos trabalhado ele para chegar até esta estreia. Foi um misto de emoções. O primeiro projeto, o planejamento e o grande objetivo era voltar a competir com ele. No meio disso, eu falei com a dona Anna que ia preparar ele para reestrear no grande prêmio. Disse que ia preparar ele com calma e que não ia forçá-lo, nem tirar nada artificialmente dele e que, quando ele me mostrasse que estava pronto, eu levaria. Esse foi o grande objetivo: voltar em uma prova. E ele foi superbem nessa estreia, depois de cinco anos sem competir. Primeira prova de GP. Foi maravilhoso e ainda olhando para trás e vendo tudo que ele passou para chegar até ali.
Você saiu da prova com qual sensação?
Foi uma sensação de dever cumprido, Roberta. Lá atrás, há dois anos, quando ele voltou a trabalhar depois da operação, da fisioterapia e tudo mais, quando foi liberado, o grande objetivo meu e da dona Anna era voltar a competir com ele. O primeiro objetivo era esse, não pensávamos — eu, particularmente, não pensava em mais nada a não ser voltar a competir. Quando comecei a trabalhar ele, foquei total que a volta dele já seria em GP, mas dentro do tempo dele. Ele que iria me mostrar, sem forçar nada, o momento. Foi uma prova maravilhosa, fiquei muito satisfeito com o desempenho dele. Eu estava há três anos sem competir, então, eu também estava fora do ritmo de prova. Estamos no caminho e ele me mostrou isso. Lógico que têm muitos pontos a melhorar e isso é natural. O que eu fiquei satisfeito mesmo é de ter tido bom desempenho com ele na prova, ter tido uma nota boa e eu tive 70% com a Claudia [Mesquita], que é juíza FEI 4*, e isso com detalhes que aconteceram dentro da prova, com erro na mudança a tempo. Agora, é focar na melhora dos pontos, mas sem ultrapassar os limites dele e ir crescendo, fazendo ele crescer dentro das reprises.
Na entrevista de 2018, você disse que Comanche tinha aptidão para GP. Confirmou seu feeling?
Sim, total. Na verdade, esse foi meu feeling desde quando comecei a montar ele. Teoricamente, é muito simples você perceber, quando começa o trabalho de um cavalo, ali aos quatro anos, você já consegue ter uma ideia da finura de cada cavalo, do trabalho, da facilidade. Logicamente que é muito cedo, mas eu sempre comentei que ele tinha perfil para um cavalo de GP, porque ele era muito fino, um cavalo que gosta de trabalhar. Diferente do Don Enrico, por exemplo, que andava superbem, mas era um cavalo mais atrás da perna, de posteriores frios e não tinha nada de GP, mas era um bom cavalo de São Jorge — tanto que voltamos de Lima, coloquei mudanças a tempo nele, um pouco de passage, mas ele tinha dificuldade nas piruetas, zero piaffe, não tinha perfil para GP. Já o Comanche, desde sempre, ele tinha este perfil para GP.
Quais são os planos agora? O que fará de provas e com qual objetivo?
O primeiro objetivo, que era voltar ele a uma competição e voltar bem, saudável e confirmado, foi alcançado. Agora, é dar sequência e com muito cuidado. É um cavalo que eu levo no colo, um cavalo que exige cuidado. Ele é meu principal cavalo e vou cuidar muito. As coisas já estão ali e agora eu preciso refinar. O que ele precisa muito é ritmo de prova, em todos os sentidos. Eu fui com ele para essa prova do ranking na terça à noite — fui com meu irmão que levou um cavalo novo e queria ir cedo. Então, na quarta, quinta e sexta, ele estava bem. Na sexta, ele estava no ponto, mas, no sábado, a energia dele caiu no pé. Quando eu cheguei ao paddock, eu vi que ele estava sem energia — ainda comentei com os meninos, falei com meu irmão — e entrei preocupado, mas lá dentro ele funcionou, não como eu vinha sentindo ele, mas funcionou. Meus objetivos, planos, agora são usar este resto de ano para entrar nos rankings internos — pretendo fazer os rankings da Paulista e o da Santo Amaro, lugares que têm bons pisos, para rodar. Ele precisa sair de casa, pegar rotina de prova, pegar rotina da reprise, começar a entender a reprise. Isso é bem importante.
Temos Jogos Pan-Americanos em Santiago em 2023 e Olimpíada em 2024… eles estão na sua mira?
Então, Roberta, eu gosto de viver degrau a degrau. Logicamente, que eu penso muito em chegar a uma olimpíada, é meu sonho profissional e meu sonho pessoal poder chegar algum dia a uma olimpíada e representar bem o País, fazendo uma boa apresentação e ser lembrado positivamente. Esse é meu grande objetivo e meu sonho. E está próximo; quem sabe, seja agora nesta próxima edição. Mas, sendo muito honesto com você, eu vou passo a passo. Vou usar o resto do ano para consolidar o trabalho dele, pegar ritmo de prova, de reprise. No ano que vem, pretendo chegar com ele forte, firme e consolidado para fazer uma boa seletiva para o Pan. Este é meu primeiro grande objetivo. Conseguindo a vaga para o Pan, ir, logicamente, e, aí sim, voltando e dando tudo certo, o Brasil conseguindo a vaga para olimpíada, foca em um trabalho para a olimpíada. A ideia com ele é sempre ter muito cuidado, não ficar levando em tudo quanto é prova. Eu gosto muito do “menos é mais”. Ele tem uma idade de 14 para 15 anos, não é um cavalo velho, mas também não é novo. Ele está super na idade, é agora, é o momento. Tem tudo para dar certo sim. Quem sabe, se Deus quiser, se ele continuar nessa crescente, chegaremos lá, pelo menos para disputar vaga, entrar nas seletivas para olimpíadas.
02 de julho — SHP (SP)
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