Biomecânica: o fundamental para saber para melhorar a equitação

A biomecânica estuda os movimentos dos seres vivos, a partir da anatomia, fisiologia e mecânica. Compreender a biomecânica do cavalo e do cavaleiro, entendendo como estes dois corpos de espécies diferentes se deslocam de forma conjunta, torna-se uma ferramenta poderosa para melhorar a equitação, já que ajuda os atletas a melhorarem sua consciência corporal ao montar. Especialistas no assunto explicam o que você precisa saber para usar a biomecânica a seu favor na hora de montar.

Ao compreender os princípios biomecânicos, o cavaleiro pode aprimorar sua postura, equilíbrio e coordenação, o que resulta em uma comunicação mais eficaz com o cavalo. “Como bons cavaleiros, precisamos de clareza e precisão na aplicação das ajudas. As ajudas naturais são o maior idioma que possuímos quando montamos e utilizamos a ação do próprio corpo para isso. Pela falta de consciência corporal nossa comunicação pode ser dúbia para o cavalo”, explica Mayara Verde, instrutora de equitação fundamental e especialista em biomecânica do cavaleiro.

Isso significa conhecer como o corpo humano se move e como ele influencia o desempenho do cavalo. Sabendo disso, o cavaleiro pode ajustar sua posição e distribuir melhor o seu peso de forma a fazer bom uso dos auxílios para ajudar o cavalo a se mover de forma mais equilibrada, eficiente e confortável.

“A compreensão da biomecânica também auxilia o cavaleiro a identificar e corrigir problemas técnicos, como tensões musculares excessivas, desequilíbrios ou restrições de movimento. Isso permite que o cavaleiro trabalhe em sua própria forma física, flexibilidade e força, para melhorar sua capacidade de se adaptar às demandas do cavalo”, assinala Mayara Verde.

Um dos benefícios desta consciência corporal e entendimento da biomecânica é desenvolver um assento independente, ou seja, quando o cavaleiro consegue montar com tronco e pernas estáveis e um quadril ativo seguindo o movimento do cavalo. “Isso é vital para que o cavaleiro tenha menos oscilação nas mãos e mais leveza na aplicação de todas as ajudas. A peça-chave para montar com excelência é a ativação do quadril e o ganho de percepção nessa estrutura”, detalha Mayara Verde.

Seguindo na explicação, a instrutora de equitação fundamental e especialista em biomecânica do cavaleiro diz que, de forma análoga, seria como se o quadril na sela representasse os pés de um surfista em uma prancha de surfe. “O quadril deve seguir e absorver a movimentação do cavalo. Para conseguir este feito, o cavaleiro deve ter um posicionamento que evite tensão e força excessiva, limitando a movimentação do quadril; deve ter consciência corporal e compreender como funciona seu corpo em cada andamento do cavalo”, acrescenta.

Para ganho de consciência do quadril e do cavalo, ela diz existem vários exercícios que podem ser efetuados sobre o cavalo e o cavaleiro também pode fazer vários exercícios de solo, como, por exemplo, na bola de pilates. Leia abaixo os “5 pontos fundamentais da biomecânica do cavaleiro”.

Biomecânica do cavalo e o engajamento
Para além do cavaleiro, a biomecânica do cavalo estuda a maneira como eles utilizam sua força, equilíbrio e como coordenam seus músculos e articulações de maneira eficiente, tanto para dar fluência aos movimentos do seu corpo, como também manter uma boa postura ao carregar o cavaleiro. Isto está diretamente relacionado à sua saúde e ao seu desempenho atlético.

“É importante o cavaleiro ter noção disso para compreender como estar em equilíbrio com seu cavalo, não impedindo que ele possa se movimentar corretamente. Para o cavalo montado pode ser um desafio carregar seu cavaleiro sem perder o equilíbrio e eles podem se defender disso jogando para peso para frente”, explica Claudia da Rocha Patricio, médica veterinária, pós-graduada em quiropraxia animal e certificada pela International Veterinary Chiropractic Association (IVCA 2008).

Um exemplo é o engajamento do cavalo, que ocorre quando ele consegue utilizar seu corpo em uma postura em que o tórax esteja elevado, a coluna flexionada, o pescoço alongado, e com uma leve flexão nos quadris, avançando os posteriores abaixo do abdome para poder melhor sustentar seu peso e conseguir impulsionar o corpo para frente com eficiência. “Esse engajamento dos posteriores permite uma maior leveza aos membros anteriores e maior mobilidade e descontração das espáduas e elevação da coluna dorsal. É a postura ótima em que o cavalo deve trabalhar para sustentar o peso do cavaleiro corretamente, sem se lesionar”, diz a médica veterinária e quiroprata.

“Em um cavalo novo, sem trabalho, por influência do peso do pescoço e da cabeça seu centro de equilíbrio se encontra para frente do corpo, sobre as espáduas. Ao ter que carregar o peso do cavaleiro às costas, é preciso aprender a deslocar seu centro de equilíbrio mais para trás, deixando os anteriores mais leves, engajando com os posteriores, abaixando e alongando o pescoço assim descontraindo o dorso erguendo sua coluna em flexão, impedindo que ela entre em colapso devido ao peso do cavaleiro o que é o ideal para a performance atlética. Por mais que o cavalo na natureza adote a postura engajada eventualmente, não é natural para eles sustentar essa postura por muito tempo”, acrescenta a especialista.

Obter esse engajamento é um trabalho a longo prazo e que requer bom condicionamento físico, elasticidade e força muscular, equilíbrio e flexibilidade de espáduas e quadris. “É preciso ir construindo essa postura desejada aos poucos com treinamentos específicos para que o cavalo ganhe força ao mesmo tempo a descontração e coordenação muscular necessárias para manter o engajamento correto”, aponta Claudia da Rocha Patricio.

5 pontos fundamentais da biomecânica do cavaleiro
De acordo com Mayara Verde, existem vários fundamentos importantes que influenciam a biomecânica do cavaleiro. Abaixo alguns dos mais utilizados:

Postura e alinhamento corporal — A postura adequada é fundamental para um bom desempenho e eficiência na equitação. O cavaleiro deve manter uma postura ereta, alinhando orelhas, ombros, quadris e calcanhares na vertical. Isso permite um melhor equilíbrio e controle sobre o cavalo.
Equilíbrio e centro de gravidade — O cavaleiro precisa encontrar o equilíbrio adequado sobre o cavalo, alinhando seu centro de gravidade com o do animal. Isso é essencial para manter a estabilidade durante os movimentos do cavalo, como os trotes, galopes e saltos.
Uso eficiente dos músculos — O cavaleiro deve aprender a usar os músculos de forma eficiente para transmitir comandos claros ao cavalo. Isso envolve o uso adequado dos músculos do tronco, membros inferiores e superiores para manter o equilíbrio, estabilidade e controle adequados.
Coordenação e sincronização — O cavaleiro precisa desenvolver uma boa coordenação e sincronização entre os movimentos do seu corpo e os do cavalo. Isso inclui aprender a acompanhar o movimento natural do cavalo, como o balanço do dorso, para minimizar qualquer interferência ou resistência desnecessária.
Ajuste ao cavalo — Cada cavalo tem suas próprias características físicas e biomecânicas. O cavaleiro precisa ser capaz de se adaptar às particularidades de cada cavalo, como sua altura, largura, comprimento de passada e ritmo natural. Isso envolve ajustar a posição do corpo, a força exercida nos arreios e os comandos dados de acordo com as necessidades individuais de cada cavalo.

Curso – A biomecânica é tema de um dos módulos do curso de formação de treinadores de adestramento e trabalho de plano do Dressage Team RS, que é válido para o Programa de Certificação de Treinadores da CBH. Para ser um treinador certificado pela Confederação Brasileira de Hipismo, são necessárias três certificações: certificação técnica; certificação informacional; e certificação de segurança.

O curso de formação de treinadores de adestramento e trabalho de plano foi criado pelo Dressage Team RS, que é encabeçado por Clara Machado e Luiza Squeff, que também é atleta profissional de adestramento e FEI Coach Level I. Para inscrição e mais informações, clique aqui para acessar o site.

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