Lima, Peru — Quando criança, Sarah Lockman tinha um sonho que é o desejo de muitas garotas e garotos que começam algum esporte: representar o seu país internacionalmente. Aos 30 anos, a garota de uma pequena cidade dos Estados Unidos e que estudou em casa para se dedicar aos cavalos, chegou lá. Sarah Lockman conquistou medalha de ouro no individual e a de prata por equipe. “Eu vim para Lima querendo alcançar a maior nota que eu poderia e um objetivo meu era alcançar um recorde pessoal. Do aquecimento até a saudação final, o cavalo estava 100% comigo, então, fiquei muito feliz ao perceber que havíamos feito uma grande apresentação”, disse, com lágrimas nos olhos, após receber a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019.
Na primeira vez em que representou os EUA em uma competição deste porte de nível internacional — e em sua primeira viagem à América do Sul —, Sarah Lockman cravou os melhores porcentuais em todas as provas que competiu no Pan. Na final, a líder escolheu ritmos dançantes, atuais e bem conhecidos para a reprise estilo livre, alcançando 78,980% com First Apple, um garanhão KWPN de nove anos e que ela monta há pouco mais de seis meses. “Estamos juntos há muito pouco tempo; o compramos no outono [dos Estados Unidos, meses entre setembro e dezembro] e, no momento em que sentei na sela, senti uma conexão profunda. Quando você é uma pessoa do cavalo, você tem um sexto sentido. Apple e eu nos conectamos imediatamente”, contou.
Lockman descreveu a First Apple como um cavalo supercompetitivo e que ama o seu trabalho. “Ele sabe quando o momento é importante; ele entra na arena, se anima e faz todo mundo olhar ele.”
A cavaleira é treinada por Scott Hassl há cerca de quatro anos anos. “Scott me notou quando estava começando meu negócio e montando cavalos novos e quentes. Scott, provavelmente, tinha coisas melhores a fazer que ir para Califórnia e ajudar Sarah com seus animais selvagens, mas ele teve um interesse especial em mim desde o começo. Acho que outras pessoas não me levaram tão a sério, então, eu devo tudo ao Scott por acreditar em mim desde o começo, quando eu não era ninguém”, contou.
“Sarah Lockman carrega uma enorme paixão pelo esporte, tem o desejo e é muito comprometida e correta”, avaliou Scott Hassl, ao ser questionado sobre sua pupila. Ele contou que a maneira como ela trata os cavalos e como é correta pesou na decisão de aceitar treiná-la quatro anos atrás. “Foi sobre como ela é correta e faz a coisa certa para cada cavalo. Eu disse que treinaria ela, não importando quantos cavalos. Bom, talvez isto [esta última parte] tenha sido um erro”, disse, rindo da quantidade de cavalos que Lockman montava, algo em torno de 12 a 18 cavalos por dia.
Na época, Sarah Lockman tinha 50 cavalos sob seus treinamentos. “Ela sabe como trabalhar”, contou o técnico. “Mas tivemos de dizer a ela que agora, que está em um patamar diferente, são apenas oito cavalos por dia. Podemos colocar cavaleiros embaixo dela para treinar”, completou.
O treinamento que levou à medalha de ouro no Pan-Americano de Lima incluiu o trabalho feito antes da aquisição de First Apple — o garanhão de nove anos foi adquirido na Holanda quando Lockman fazia visitas em busca de animais para seu patrocinador Gerry Ibanez e estava sendo montado por Patrik van der Meer. “Ele [Meer] fez um trabalho fantástico com Apple, o que deixou nosso trabalho mais fácil”, disse o treinador.
Ele reconheceu que não é usual formar conjunto tão bem e tão rapidamente. “Temos de atribuir o sucesso a Sarah e Gerry, o dono, por isto. Eu vejo muito as pessoas comprando cavalos e tendo de entendê-los ao chegar a casa que falei à Sarah que se ela estava comprometida com isto, e ela estava 100%, eu sugeri que ficasse com Apple lá por um mês para conseguir entender tudo sobre ele”, disse Scott Hassl.
O plano deu certo e, segundo eles, a medalha de ouro é apenas o começo. Hassl e Lockman estão trabalhando juntos para com objetivo de chegar aos Jogos Olímpicos de Tóquio. Firt Apple ainda não se apresentou na prova de grande prêmio. “Sabemos que é um feito enorme fazer o GP, mas uma coisa é certa: não vamos forçar Apple. Ele gosta disto, então, entre as provas, fizemos alguns exercícios de GP, mas com cuidado. Por exemplo, não fazemos piaffe ou passage uma semana antes das provas [de small tour]”, detalhou o técnico, que acredita que o cavalo estará pronto para Tóquio 2020.
Carreira
Sarah Lockman monta cavalos desde muito pequena, quando, segundo ela, nem podia andar direito. O pai dela deu a ela de presente seu primeiro pônei quando não tinha nem três anos de idade. “Ele comprou um pônei usando cupons de desconto de uma revista por 500 dólares. Era um pônei de 32 anos de idade e com apenas um olho. Meu pai não sabia nada de cavalos, diferentemente de minha mãe. Quando ela viu o pônei, ela chorou e eu não acho que tenham sido lágrimas de felicidade. Desde então, eu tenho sido completamente comprometida”, lembrou.
O desejo de representar os EUA em competições como Pan-Americanos e Olimpíadas já existia quando Sarah era garota. “Quando tinha dez anos, disse ao meu treinador da época que queria ser uma treinadora de cavalos e que queria competir na Olimpíada”, revelou. Representar seu país no Pan de Lima foi para ela o primeiro passo da caminhada rumo aos Jogos Olímpicos.
“Aqui é realmente um sonho se tornando realidade. Eu sou uma garota de uma cidade muito pequena, do meio do nada, mas tão afortunada de ter tantas pessoas que acreditaram em mim desde o começo. Acho que o trabalho duro compensa e eu trabalhei muito duro para estar aqui. Quero dizer às meninas por aí que, se vocês querem ir às Olimpíadas, é possível”, disse.
Foto: divulgação Lima – Vidal Tarqui
Adestramento Brasil foi ao Peru fazer a cobertura in loco. Acompanhe todas as matérias dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019.
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