Como fazer a partida ao galope sem deixar o cavalo tensionado? Esta questão foi enviada por duas pessoas diferentes quando  abrimos a caixinha do Instagram para receber dúvidas. “Tensão nas partidas de galope demonstra um problema de base, principalmente se isso ocorrer tanto nas partidas de galope através do trote quanto do passo”, explica a amazona profissional Isabela do Valle Arenzon, que se encarregou desta edição de ‘Pergunte ao Expert’ (leia todos) e dá dicas de como fazer o movimento.

Isabela do Valle Arenzon, que é também estilista de moda equestre, monta desde a infância, tendo primeiro praticado salto e competido até altura de 1,20 m, na cidade do Rio de Janeiro onde nasceu, mas optou pelo adestramento há cerca de 20 anos. Já treinou com Ingrid Borghoff Troyko e Orlando Facada; montou na Coudelaria Rocas do Vouga e teve clínicas com Dolf Keller e Joyce Heuytink. Atualmente, monta e dá aulas no Clube Hípico de Santo Amaro, além de treinar lusitanos da Coudelaria Vila de Sagres.

“Sempre que encontramos uma dificuldade no treinamento de um cavalo, devemos primeiro nos certificar de que ele realmente está em bom estado de saúde, que não tem dor nas costas, no pescoço ou em nenhuma parte do corpo e de que está com os dentes com boa manutenção. Em seguida verificamos o material: se a sela está confortável e não precisa de algum ajuste, lembrando que o corpo de um cavalo vai se modificando com o desenvolvimento do seu trabalho e, de tempos em tempos, devemos verificar se a sela ainda está boa. O mesmo vale para cabeçada e embocadura.

Tendo certeza de que o cavalo não tem nenhum desconforto físico ou causado pelo material, podemos começar a tentar achar as causas e as soluções para o problema no trabalho.

Tensão nas partidas de galope demonstra um problema de base, principalmente se isso ocorrer tanto nas partidas de galope através do trote quanto do passo.

O cavaleiro deve fazer uma análise se ele está sendo claro e suave nas suas ajudas. Ele pode estar passando comandos confusos ou muito agressivos para aquele cavalo. O cavaleiro deve sempre ter em mente que cada cavalo é um indivíduo distinto do outro e o que funciona bem com um pode ter um efeito totalmente contrário com o outro. E é nisso reside uma das coisas mais belas da equitação, o que desenvolve nosso relacionamento único com cada cavalo, no qual precisamos ir nos conhecendo melhor a cada dia, analisando seu comportamento e reações.

Às vezes, estilos de equitação se diferenciam sutilmente dependendo das suas origens e da sua função (pergunte a um cavaleiro de salto como ele pede o galope e provavelmente suas ajudas serão um pouco diferentes de um cavaleiro de adestramento.) Porém, geralmente, para partidas ao galope usamos as seguintes ajudas:

O cavaleiro faz uma meia parada antes de solicitar a partida, para chamar a atenção do cavalo. Em seguida posiciona o peso do seu assento mais no ísquio para o lado o qual vai solicitar o galope. Vamos imaginar que estamos partindo ao galope à direita, por exemplo. Nesse caso, em seguida, o cavaleiro posiciona sua perna interna (direita) junto à cilha e sua perna externa (esquerda) um pouco atrás da cilha e mantem o contato na rédea de fora (esquerda) e leve pli (encurvatura) para o lado interno (direita). Pressiona a perna interna e o assento mais fundo na sela e, assim, teríamos uma partida de galope.

O cavaleiro não deve “agarrar” na boca do cavalo criando ajudas conflitantes. Pois, nesse caso, seria como “pisar no acelerador e no freio ao mesmo tempo”. O contato deve ser suave e os braços elásticos de modo que o cavalo possa usar o movimento natural de báscula do seu pescoço para se movimentar e se equilibrar.

Deve-se também analisar se a tensão encontrada é realmente apenas nas partidas de galope ou se seria também encontrada em outros momentos do trabalho. Sendo um movimento de base, caso a tensão exista num certo nível em boa parte do trabalho, ela pode demonstrar até mesmo um problema originado na doma, que talvez tenha sido feita muito rápido ou sem a sensibilidade e método necessários aquele animal.

Mesmo este tipo de problema, costuma ter solução. A solução em adestramento comumente é voltar o trabalho para trás, mais para a base da escala de treinamento. Só podemos avançar o trabalho de um cavalo tendo uma base sólida e bem compreendida. Caso contrário inevitavelmente os problemas aparecerão mais à frente, muitas vezes tarde demais para que possamos eliminá-lo totalmente. Portanto o quanto antes possamos voltar para essa base e reestabelecer a confiança do cavalo no exercício, melhor.

Muitas vezes, o cavaleiro começa a exigir movimentos ao cavalo antes de que ele esteja preparado, física e ou mentalmente. Muitos cavalos, hoje em dia, têm uma aptidão física tão grande e tanta facilidade em executar os movimentos que alguns cavaleiros acabam por solicitar exercícios mais avançados a cavalos muito jovens, que, apesar da sua facilidade em executá-los, muitas vezes, ainda não estão com a sua formação completa, tanto física quanto psicológica e o que parece adiantado em idade pode se tornar um limitante para o cavalo no longo prazo.

O cavaleiro que encontra problema de tensão nas partidas de galope precisa primeiro eliminar o problema totalmente nas partidas, através do trote, para, então, tratar o problema a partir do passo e, depois, do alto. Pois o cavalo precisa fazer muito mais força para partir do passo e mais ainda de um alto. Às vezes, a tensão é apenas uma demonstração do cavalo de que não está ainda forte o suficiente fisicamente para partidas do passo ou alto. Para isso volta-se para trás, nas partidas pelo trote.

É muito importante que o cavalo compreenda bem essa etapa do trabalho para seguir para frente, pois estas ajudas são também a base de outros movimentos mais avançados, como mudanças de pé simples e mudanças de pé no ar, que são um desenvolvimento das partidas de galope, assim como as piruetas que podemos comparar um pouco com uma sequência de partidas ao galope.”

A seção Pergunte ao expert tem como objetivo responder a dúvidas enviadas pelos leitores. A cada questão selecionamos um atleta profissional para respondê-la. Tem alguma pergunta? Envie para contato@adestramentobrasil.com 

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Foto: cedida / arquivo pessoal