De campeiro a medalhista pan-americano: a trajetória de João Paulo dos Santos

De campeiro a medalhista pan-americano: a trajetória de João Paulo dos Santos inspira e é cheia de surpresas. A começar pela primeira prova que ele disputou em adestramento ter sido logo de cara uma São Jorge no concurso internacional seletiva para os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara no México. O estreante não competiu no Pan em 2011, mas depois, em 2014, foi ouro por equipe e prata individual no Sul-Americano do Chile e, no Pan de Toronto, em 2015, fez o porcentual decisivo para que o Brasil conquistasse a medalha de bronze por equipe. Conheça um pouco mais de João Paulo dos Santos, cavaleiro do Time Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Lima.

“Eu trabalhava em uma fazenda vizinha à Sasa, como campeiro, mexendo com vacas. Em 2005, tive a oportunidade de ir para Sasa trabalhar com lusitano, [raça] que nunca tinha visto. Eu fiquei fazendo aulas com alguns treinadores, no começo foi difícil. Fiz as primeiras provas de equitação de trabalho, modalidade que fiquei por alguns anos, e estreei no adestramento em 2010 com o Veleiro do Top, já na São Jorge. Era seletiva para o Pan-Americano de 2011. Fiquei cotado para reserva, mas não consegui ir”, resumiu, logo no início da entrevista por telefone.

Até começar a trabalhar na Fazenda Sasa, importante haras de criação de lusitanos, onde está até hoje, a experiência de Santos com cavalos se restringia à lida com o gado, montando animais da raça quarto de milha. Foi na Sasa que ele aprendeu a equitação clássica. “Eu entrei para aprender, do começo mesmo, como tudo deve ser: postura, passo, trote, galope, muito foco na base”, lembra. No início, quem o ajudava era seu irmão gêmeo, Paulo César, que começou a trabalhar na Sasa seis meses antes e, inclusive, foi quem incentivou João Paulo a mudar de emprego.

Além de Paulo César, ele contou, no início, com mestres como o português Carlos Pinto e o brasileiro Luciano Pereira, que acompanhou os irmãos nas primeiras provas de equitação de trabalho e que acabou direcionando o atleta para o adestramento. “Ele falou que o Veleiro e eu tínhamos qualidade para o adestramento”, conta. A estreia no adestramento foi já em uma seletiva, disputando a São Jorge. “Eu nunca tinha feito uma prova de adestramento, mas os cavalos eram bem postos, os professores falavam que tinham potencial alto”, lembra João Paulo dos Santos.

O ambiente do adestramento era novo e ele não conhecia ninguém praticamente. Nas primeiras provas da seletiva, o conjunto pontuou na casa dos 64%, abaixo do porcentual que os mais experientes, como Rogério Clementino, que disputava com Sargento do Top, faziam. Mas, conforme as provas foram passando, os porcentuais da dupla estreante melhoraram a ponto de o conjunto ser escalado como reserva da equipe. “Eu montava no feeling e pensava ‘tem de ser igual a eles’, mês espelhando no Mauro [Pereira da Silva Júnior, hoje seu companheiro de equipe em Lima], na Pia Aragão, no Rogério [Clementino] e no Leandro [Silva, também integrante do time do Pan do Peru]”, conta.

Enfrentar de cara uma seletiva e ficar entre os cinco primeiros o deixou, além de contente, bastante motivado. “Depois comecei a melhorar, aperfeiçoar para tentar subir mais o nível.” As provas foram também um marco para a Fazenda Sasa, que passou a focar na modalidade, colocando mais conjuntos para disputar diversas categorias, inclusive de cavalos novos. Outro reforço foi o atleta olímpico e treinador espanhol Juan Manuel Muñoz Díaz, que atuou como professor por cerca de três anos, até 2014. Por ocasião do Pan de Toronto, ele também teve ajuda da treinadora do Time Brasil Mariette Withages. Hoje, João Paulo dos Santos não conta com treinador fixo.

Se nas seletivas para Guadalajara em 2011 Santos ficou na reserva e não embarcou para o Chile, os anos seguintes seriam de glória. “Em 2013, meu desempenho foi melhor. Fui campeão brasileiro, consegui a vaga para ir ao Sul-Americano no Chile e lá fomos ouro por equipe e eu fui bronze na intermediária 1 e prata no freestyle”, conta.

O passo seguinte foi a disputa dos Jogos Pan-Americanos de Toronto em 2015. “Foi bem emocionante e gratificante. Todo trabalho foi feito com a equipe do haras, tem muita gente que trabalha para isto. As provas foram difíceis. Veleiro e eu nos classificamos entre os primeiros nas seletivas, que foram bem disputadas e formou uma boa equipe. Lá [em Toronto], a equipe esteve muito unida, com todos se dando bem; nos unimos muito e deu tudo certo”, lembra.

A pressão em Toronto foi enorme, com o México como principal rival. “Fomos para brigar com México pelo bronze. Em cima tinham EUA e Canadá, então, sabíamos que ouro e prata estavam decididos. No primeiro dia, não fomos tão bem e o México ganhou. Mas vale a somatória e fomos para o tudo ou nada no dia seguinte para ganhar. Todos montaram firmes, deram o máximo, bem focados.” O Brasil levou o bronze por uma diferença de apenas dois pontos: 414.895 para Brasil e 412.467 para o México — Estados Unidos fecharam com 460.506 e Canadá, com 454.938. Santos terminou o Pan em 9º no individual após somar 72,950% com Veleiro do Top na inter 1 freestyle.

 

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História com Carthago Comando
A atual montaria — Carthago Comando SN (filho de Tulum Comando SN por Famoso III e Violeta Comando SN), — é antiga. Santos começou a montá-lo quando chegou à Sasa aos quatro anos de idade. Fez provas de cavalos novos de 4, 5 e 6 anos e com seis anos ele foi para Europa onde ficou por 2,5 anos com o treinador Juan Manuel Muñoz Díaz. Quando retornou ao Brasil, Carthago voltou às mãos de Santos para fazer São Jorge. A primeira competição foi em um concurso de adestramento nacional em abril de 2018. Em julho do mesmo ano, o conjunto estreou em CDI com objetivo de integrar o Time Brasil no CDI da Argentina (classificatório para Lima) e os Jogos Pan-Americanos. (Reveja a entrevista em vídeo)

Na Argentina, CDI 1*, que valeu como classificação para o Pan de Lima, só deu Santos e Carthago. O conjunto venceu as três provas — prêmio São Jorge, intermediária 1 e a kür, quando fez 74,375%, sagrando-se campeão individual. No mesmo CDI, o Brasil foi ouro e garantiu a vaga no Pan-Americano. “A equipe foi maravilhosa. Pegamos afinidade forte, espírito de equipe, amizade bacana e, quando tem isto, as coisas correm bem, com um sempre ajudando e apoiando o outro”, resumiu.

João Paulo dos Santos enxerga potencial grande em Carthago Comando SN e conta que, depois que o cavalo voltou da Europa, houve uma forte preparação para o cavalo estrear bem. “Ele tem potencial forte. Focamos no treinamento para estrear bem e conseguir a vaga para ir para Argentina. Lá foi uma das melhores provas que fiz, ele estava excepcional, estava acima do que eu esperava, chegou muito disposto, montável.”

Atualmente, Santos monta cavalos de oito a nove horas por dia de segunda a sábado. Ele ressalta que o mais importante é trabalhar a base, mesmo os que estejam em níveis avançados. “O cavalo deve estar sempre fácil para montar, bem-preparado fisicamente e psicologicamente. Então, tem de treinar o básico de forma eficiente, deixando o cavalo bem condicionado”, detalha.

Assim como os demais cavalos, Carthago viajou nesta segunda 22/7 para Lima. Ele está acostumado a viagens longas, tendo em vista que já foi para Europa e Argentina. Santos conta que ele é tranquilo e que em Lima buscará que o Carthago faça uma boa adaptação antes de treinar mais forte. Para ele, a equipe brasileira é forte, está bem montada e conta com cavaleiros experientes, viajados e acostumados a competir internacionalmente.

Sobre o nervosismo de defender o Brasil e a pressão de ter de conseguir medalha para garantir a vaga por equipe nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, Santos é enfático: “Nervoso todo mundo fica. Não pode ter pressão ou ser foçado. Vamos com intuito de que temos potencial de conseguir medalha”.

Dom parece a palavra mais apropriada para definir a história de João Paulo dos Santos no adestramento. Ele se diz muito focado e determinado. “Eu me esforço bastante para estar aprendendo cada dia mais e tentar evoluir sempre para ter bom desempenho”.

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