Maria Caetano: Olimpíada é marco importante, mas é fruto de todo um trabalho

Maria Caetano Couceiro não se lembra de quando começou a montar. Foi algo inerente à sua vida. Filha do consagrado cavaleiro português Paulo Caetano, Maria leva os cavalos no sangue e vem construindo uma história de sucesso no adestramento. A portuguesa é atualmente a número 38º no Ranking de Adestramento da FEI. No fim de 2018, no CDI-W Mechelen, ela bateu o seu recorde pessoal no grande prêmio estilo livre em uma etapa da Copa do Mundo na Bélgica, alcançando a média final de 80,160% com Coroado AR. A nota foi também um marco para toda comunidade do cavalo puro sangue lusitano.


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Depois de passar a quarentena no centro de treinamento na Alemanha, ela optou por retomar as competições em sua terra natal, Portugal. Foi de lá que a cavaleira concedeu para Adestramento Brasil entrevista ao vivo e em vídeo, transmitida no canal do Youtube do site. “O objetivo para o qual eu trabalho diariamente é para formar cavalos desde potros até o mais alto nível. Se me perguntarem o que eu me orgulho mais na minha carreira até agora, é ver que os cavalos tenham competido não só comigo. Em WEG-Tryon, tinham três cavalos ensinados por mim desde o início, como foi o caso do Xiripiti, Coroado e Zyngaro, me dá um prazer enorme. E ver estes cavalos lá com outros cavaleiros dá muito gosto. Em Tryon, isto foi muito especial para mim”, contou.

Os Jogos Olímpicos de Tóquio, que foram adiados para 2021 em decorrência da pandemia da Covid-19, seria, se tudo corresse dentro do planejado, a primeira olimpíada de Maria Caetano e também a primeira vez que seu país concorreria com uma equipe no adestramento. Portugal conquistou a vaga por time no Campeonato Europeu. “Conseguir o recorde, os 80%, foi uma pontuação que me deixou muito feliz, mas conseguir a vaga portuguesa para uma olimpíada foi mais gratificante. Não foi uma conquista só minha, mas consegui contribuir para o meu país”, destacou.

Para ela, participar de Jogos Olímpicos é o resultado de uma jornada intensa de aprendizado e não uma meta única e exclusivamente para ser alcançada. “Uma olimpíada na carreira do atleta é sempre um marco muito importante, mas é o resultado de um trabalho da minha equipe. Eu nunca pensei em trabalhar a minha carreia para ir a uma olimpíada. Eu vejo o ir a uma olimpíada, no fundo, como um reconhecimento de um trabalho bem feito durante uma época desportiva.”

E isso, segundo ela, se traduz em buscar perfeição técnica, tentar perceber melhor os cavalos, treinar de uma forma mais adequada e melhorar o desempenho em pista. “Depois, se isso for conseguido no passo a passo, o resultado final aparece e o chegar à olimpíada também. Tento focar mais no treinamento”, disse.

Diante da imposição da quarentena, os planos para Tóquio foram arrefecidos e os treinamentos, ajustados. Sobre a preparação, ela contou que com Coroado, que já sabe os movimentos de GP, pegou mais leve e deve voltar a competir em CDIs no fim deste ano. “Aproveitei para dedicar meu esforço e a minha atenção aos mais novos. Em termos de grande prêmio, o Fenix de Tineo e o Hit Plus”, adiantou.

Uma ideia “ousada” seria chegar a 2021 com quatro cavalos em big tour, sendo o Coroado a opção principal e, além dele, Fenix de Tineo, Hit Plus e Happy Plus, este último que está quase chegando ao nível de GP. “O principal objetivo é manter o Coroado em forma para a olimpíada e, com os outros, melhorá-los para contar com mais de um cavalo na preparação para olimpíada, que é importante”, detalhou.

Na entrevista, que teve duas partes, em razão de uma falha de conexão, Maria Caetano falou sobre o que significa para ela ser filha de Paulo Caetano, sobre a sua relação, desde cedo, com cavalos lusitanos e warmbloods — e a diferença entre montar eles —, sobre como foi alcançar a nota recorde com Coroado AR, sobre como ela escolhe os concursos que participa e planeja os treinos dos 12 cavalos que monta, além de dar dicas para amadores e outros tópicos.

Formada em gestão e administração de empresas, Maria Caetano chegou a trabalhar na área em algumas empresas e também deu aula, mas, quando começou a subir de nível e a participar de competições mais fortes, decidiu por dedicar-se exclusivamente ao adestramento. “Eu nunca parei de estudar e nunca parei de competir”, disse.

E, quem pensa que a quantidade de provas que participou até o momento fez com que deixasse de ficar nervosa, se enganou. “É importante ficar nervoso, porque, quando fica nervoso, é sinal que sentimos o peso da responsabilidade, sentimos que aquele concurso é importante para nós e que é algo que queremos muito que saia bem. O importante é controlar o nervosismo e usar o estresse de forma positiva”, destacou, explicando que, com o tempo, o tipo de nervosismo mudou.

Falando sobre as principais lições aprendidas durante a sua trajetória, Maria Caetano relembrou a morte, por choque anafilático, do Útil, cavalo com quem competiria os Jogos Equestres Mundiais de Kentucky (EUA). “Eu estava na equipe portuguesa com um cavalo lusitano criado por nós, que estava no início de uma carreira brilhante. Tinha só nove anos e já estava pontuando 70% em internacionais e era um dos principais cavalos da equipe. Cinco dias antes de embargar ele morreu com choque anafilático. Era meu primeiro WEG, cavalo ensinado desde sempre por mim e pelo meu pai. Tudo cau cinco dias antes”, contou.

Potencial do lusitano
Questionada sobre o potencial dos cavalos puro sangue lusitano, Maria Caetano disse que houve uma evolução forte do PSL nos últimos dez, 15 anos, por empenho de criadores, cavaleiros e treinadores. “Sinto que, nas grandes competições na Europa e no mundo, não há, hoje em dia, uma diferença entre lusitanos e warmblood. O juiz vê o lusitano como um cavalo de esporte e o julga. Claro que vê como qualidades o que ele apresentar no dia na prova, é o que vão valorizar. Eu sinto um carinho pelos juízes e pelo público no centro da Europa pelo cavalo lusitano”, disse.

Maria Caetano disse acreditar que o lusitano tem potencial para brigar por medalha em grandes concursos, como um mundial ou olimpíada. “Nós temos sempre a dificuldade em termos de escala. O cavalo warmblood tem um número de cavalos em competição e também de éguas, de criação, mas pelos resultados alcançados até hoje por lusitanos acho que vamos conseguir um dia ter este cavalo chegando à medalha de um campeonato mundial ou olímpico”, ressaltou.

Rotina
Maria Caetano tem sob sua tutela 12 cavalos de diferentes patrocinadores — apenas o Hit Plus é de sua propriedade; ela o monta desde que ele tem cinco anos e acabou de estreá-lo em grande prêmio. A rotina dela inclui montar oito cavalos por dia e ela conta com uma cavaleira assistente que a ajuda no dia a dia como groom e também a montar alguns dos animais.

“Os cavalos são atletas de um esporte de alta competição, que tem um nível de exigência física muito grande e é responsabilidade da equipe que está com o cavalo — cavaleiro, treinador, tratador, veterinário — poder construir a carreira dos cavalos para minimizar ao máximo as lesões. E eu tento não inventar muito. A FEI tem as escalas de treino e de provas muito bem-definidas”, falou, quando perguntada sobre como levar os cavalos ao nível de GP e em boa forma.

Ela disse que treina forte cinco dias por semana cada cavalo e nos outros dois dias, sai para passear, leva para comer grama, dá cenouras, açúcar. “Mimo muito, porque esta relação, este agrado, este sentimento bom são que o cavalo tem de sentir com o cavaleiro.” A relação entre o cavaleiro e o cavalo é algo que Maria Caetano disse primar muito e atribuiu a este relacionamento o sucesso de sua carreira. “Passo horas com os cavalos. Sou eu quem os levo aos concursos. Tem de criar o bond, que esta relação depois em pista se vai notar muito. E pode ser a diferença de subir mais um ponto no fim da performance, porque os cavalos são muito sensíveis”, destacou.

Questionada sobre dicas a amadores que vislumbram uma carreira profissional, ela lembrou que há ginetes que chegaram a níveis de jogos mundiais e olímpicos conciliando o esporte com outras carreiras. “Sobretudo, a capacidade de trabalho, de organização diária e de sacrifício, porque é um esporte e exige sacrifício de treinar e abdicar de outras coisas, são muito importante. Mas eu não acho essencial um cavaleiro virar profissional 100% para conseguir alcançar objetivo de carreira esportiva”, disse.

Aprimorar os detalhes todos os dias, escutar o que os cavalos têm a nos dizer e entender que a culpa nem sempre é do cavalo também foram ressaltados pela portuguesa. “Seja que nível for, parar um pouco e pensar se está dando as ajudas certas, se o assento está correto, escutar a opinião de outras pessoas, fazer vídeo. Eu continuo a fazer tudo isto, entender o que está acontecendo e melhorar a mim e a minha técnica para não colocar a culpa nos cavalos.”

Assista a esta e a outras entrevistas no canal do Youtube de Adestramento Brasil.

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