Preconiza-se que o adestramento é — ou deveria ser — a base de todas as demais modalidades, mas sabemos que, na prática, não é bem assim. No Brasil, são poucas as escolas de equitação que oferecem aulas da modalidade e poucos clubes organizam provas. No entanto, este cenário vem lentamente mudando. Apesar de não ter a mesma adrenalina do salto, o adestramento é uma modalidade muito desafiadora e que exige muita técnica de quem a pratica. O site recebeu uma sugestão pelo seu perfil no Instagram para publicar um texto com dicas de quem está começando. Assim, seguem abaixo algumas ideias — e sintam-se à vontade para comentar contribuindo com orientações e acrescentar sugestões.
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Leia o regulamento
O regulamento de adestramento da Confederação Brasileira de Hipismo explica quais são os objetivos do adestramento e detalha alguns dos principais movimentos e figuras. A leitura é um bom ponto de partida para entender melhor não apenas a modalidade, mas também o que os juízes querem ver nas provas. O regulamento também especifica como devem ser o uniforme e o arreamento nas provas.
Acesse aqui a versão 2022 do regulamento da CBH.
Cavalo
Não é preciso ter cavalo para praticar o adestramento: você pode começar montando em uma escola de equitação que ofereça a modalidade. Conforme você for avançando de nível, assim como em outras modalidades, o ideal é buscar um animal para fazer conjunto. E lembre-se de recorrer a profissionais qualificados e de sua confiança para te orientarem na compra!
Escala de treinamento
Mantra do adestramento, a escala de treinamento deve estar sempre na cabeça dos atletas. Trata-se de um guia para o treinamento, pelo qual só se avança para uma nova fase quando a anterior estiver bem compreendida e executada. São elas: ritmo, descontração, contato, impulsão, retidão e reunião.
Em 2020, Adestramento Brasil conduziu uma série de entrevistas com a Claudia Leschonski, médica veterinária e instrutora na Universidade do Cavalo (UC), na qual a especialista explica detalhadamente cada uma das etapas da escala, dando exemplos claros e de fácil entendimento para que amadores e profissionais entendam os conceitos e como aplicá-los. Leia aqui.
Busque conhecimento além das aulas práticas
Para progredir, os atletas devem entender a técnica por trás dos exercícios. Existe pouca literatura em português, mas na int é possível assistir a diversos vídeos e, assim, buscar um aperfeiçoamento. Com objetivo de fomentar o conhecimento acerca da modalidade, Ingrid Borghoff Troyko colocou à disposição dos leitores de Adestramento Brasil capítulos de seu livro “Manual de Equitação Fundamental”.
O conteúdo é indicado para cavaleiros e instrutores e atende a todos que queiram aperfeiçoar as técnicas de montaria, com temas de interesse para qualquer modalidade hípica, ensinamentos sobre como trabalhar o cavalo e o cavaleiro corretamente na base e informações técnicas sobre o adestramento básico até o nível médio — acesse o livro aqui.
Pista
As provas de adestramento são realizadas em picadeiro que mede 60 metros de comprimento por 20 metros de largura e existem letras em lugares determinados. Estas letras vão “guiar” os movimentos a serem executados em cada teste. Se o picadeiro que você monta for maior, tente delimitar o espaço, por exemplo, colocando objetos representando as letras, assim, você terá noção de espaço e conseguirá treinar as figuras, como círculos, serpentinas etc.
Critério subjetivo
Diferentemente do salto ou outras modalidades com critérios objetivos, as provas de adestramento são julgadas por juízes, que dão notas de 0 a 10 (de não executado a excelente). É claro que os juízes têm certos parâmetros para aplicar as notas, mas, mesmo assim, a depender, por exemplo, do ângulo que ele esteja, a nota pode variar. Como atleta, você precisa ter o entendimento de que você será julgado e que aceitar o resultado faz parte do jogo! No Brasil, os juízes são bem receptivos, se, ao término da competição, o competidor se aproximar e tirar dúvidas educadamente.
Reprise
Reprise é como é chamado o teste a ser executado. Diferentemente do salto, no qual os cavaleiros e amazonas conhecem o percurso que vão executar apenas no dia da competição, no adestramento os desenhos das provas são pré-definidos. São as chamadas reprises e cada série tem suas próprias figuras e sequências a serem executadas.
De modo geral, as provas nacionais contam com três reprises diferentes por série, cujo nível de dificuldade aumenta gradativamente, adicionando novos movimentos. Os organizadores da competição apontam no programa qual reprise deverá ser executada por cada série e categoria. Assim, os concorrentes podem treinar e devem decorar a sequência de movimentos e figuras a ser executada. Todas as reprises usadas nas provas no Brasil podem ser baixadas no site da CBH.
Figuras, exercícios e movimentos
O adestramento é composto de uma série de exercícios que devem ser executados em determinada ordem quando em uma competição. Cada um tem a sua dificuldade e técnicas necessárias para a correta execução. O regulamento da CBH traz alguns deles e a seção Pergunte ao Expert (acesse) coloca profissionais para responder a questões que recebemos — e elas vão desde como executar um bom alto até piaffe. Tem muito conteúdo bacana para tirar as mais diversas dúvidas.
Séries e categorias
As provas são divididas por séries (uma divisão técnica por nível de dificuldade e complexidade da reprise, do teste a ser executado) e por categorias (que separa amadores de profissionais e algumas por idade). As séries oficiais da CBH são: pônei, elementar, preliminar, média 1, média 2, forte 1, forte 2, intermediária e especial, além de cavalos novos, júnior, children e jovens cavaleiros.
Regionalmente, federações estaduais inserem a série iniciante antes da elementar e alguns clubes têm a estreante, que não tem galope, antes da iniciante. Para cada série há as reprises correspondentes cuja dificuldade aumenta gradativamente.
Não atropele fases
O adestramento é muito técnico e, principalmente, se o cavalo for jovem, é preciso respeitar todas as fases de aprendizado. Siga a escala de treinamento e não introduza um novo e mais difícil exercício se o anterior não estiver consolidado. As próprias reprises fazem este papel, ao gradualmente aumentar o nível de exigência. Em 2019, a juíza FEI 4* Natacha Waddell ressaltou: “A qualidade de um cavaleiro não se mede pela série que ele se apresenta” — leia aqui.
A mudança de série deve ser sempre muito bem estudada pelos atletas para que o desempenho do conjunto esteja dentro do solicitado nas provas. No Brasil, não existe uma nota mínima ou teste para sinalizar ou permitir que cavaleiros avancem de nível, cabendo ao atleta e/ou ao treinador a responsabilidade de fazer esta avaliação. Mas como identificar quando deve ser este momento? Há um porcentual de nota que indica que o conjunto está apto a progredir? Em 2017, o site Adestramento Brasil questionou juízes para entender o que deve ser observado. Conheça aqui o que eles disseram à época.
Provas
Esta matéria de 2018 do Adestramento Brasil explica o funcionamento das provas. Desde então, houve ajustes no regulamento da CBH, mas, de modo geral, o texto responde aos principais questionamentos.
Por fim, o adestramento pede calma, paciência, vontade de aprender e de se aperfeiçoar e muita determinação e sabedoria!
Foto: JC Markun