Cesar Torrente, FEI 4*: está na hora do Pan-Americano voltar a ser big tour

Já está na hora de os Jogos Pan-Americanos voltarem a ser disputados em big tour, defendeu o juiz FEI L3/4* pela Colômbia Cesar Torrente, em entrevista ao Adestramento Brasil. Ele, que mora nos Estados Unidos, integrou o júri de campo do primeiro CDI realizado no País neste ano. “Eu acredito que temos que dar o passo a big tour, sobretudo, levando em consideração que se trata de uma seletiva para os Jogos Olímpicos”, afirmou.

Torrente também teceu avaliações sobre o que julgou no internacional e nacional— apontando que houve “uma melhora substancial entre as provas de sábado e domingo no CDI” —, falou sobre a dificuldade na transição entre small e big tour e assinalou como quem monta lusitanos deve aproveitar suas qualidades. “Eu acredito muito nos lusitanos, porque têm uma habilidade fenomenal para piaffe e passage. Esses cavalos bem treinados e que possam tirar notas altas em passage, piaffe e piruetas dão muitas possibilidades aos ginetes”, disse.

Leia a entrevista a seguir:

Adestramento Brasil: Para começar, conte um pouco sobre sua relação com o Brasil. Lembro-me que falamos há uns cinco anos quando esteve julgando um CDI aqui.
Cesar Torrente:
Minha história com o Brasil tem muitos anos. Quando era ginete, vim aqui comprar cavalos. Comprei dois BHs; estou falando do ano de 1994. Antes da Covid, vim julgar um CDI na Sociedade Hípica Paulista. Então, esta é minha segunda vez julgando aqui.

Este CDI do CHSA deu a largada às seletivas para formação da equipe Brasileira do Pan e as notas finais foram mais baixas que as médias de 2022. Em que pese que tenham sido conjuntos distintos, que avaliação você faz das apresentações?
Segundo me informaram, nem todos que estavam no Sul-Americano e nem todos os cavalos que estão mais avançados puderam vir a esse CDI, que foi o primeiro do ano. Então, talvez por isso, as notas estavam mais baixas. Mas creio que houve uma melhora substancial entre as provas de sábado e domingo, com os porcentuais ficando melhor. É muito importante que o Brasil tenha vários conjuntos em grande prêmio e vários fazendo concursos na Europa e no Brasil. Isso é muito importante para o nível latino-americano, porque poucos países da região têm conjuntos em grande prêmio.

Reveja a entrevista de 2018:
Cesar Torrente, FEI 4*, elogia cavalos novos e aponta melhorias na kür

E aí entra a discussão se o Pan-Americano deve ficar misto ou subir para big tour.
Minha opinião pessoal — e aqui coloco um pouco de história. Quando eu estava começando a montar, estou falando do ano de 1972, fazendo os primeiros concursos em 1974, quando fui aos Jogos Pan-Americanos na Venezuela em 1979, meu pai me comprou um cavalo de GP. Eu tinha 19 anos e meu pai comprou o cavalo com objetivo de eu poder participar nos Jogos Pan-Americanos, porque, no ano de 1979, eram big tour. Depois foi baixado a São Jorge e eu creio que foi bom, senão não teríamos muitos países com equipe. Mas já é o momento de voltar a subir.

Eu estava falando com os dirigentes da federação [brasileira] e diz que têm muito interesse em ter a maioria de conjuntos de grande prêmio. De uma parte, isso é muito importante para mostrar na Europa que, na América Latina, sim, há grande prêmio, ainda que sejam poucos os países que tenham — basicamente Brasil e México; Colômbia não tem muitos de GP. Eu acredito que temos que dar o passo a big tour, sobretudo, levando em consideração que se trata de uma seletiva para os Jogos Olímpicos. Não tem lógica que tenha seletiva para olimpíada no nível de small tour.

E, nessa transição entre small tour e big tour, em que os conjuntos precisam se atentar para subir de nível?
O salto de small tour a big tour é muito grande. A qualidade de cavalos que se tem que ter é muito grande, além da diferença de preços. Quando se vai à Europa e aos Estados Unidos a buscar cavalos, existe uma faixa de preços para os de small tour e outra para os de grande prêmio. Isso, em muitas ocasiões, para nossos países sul-americanos, é muito difícil. A única forma é treiná-los desde pequenos. Eu acredito muito no lusitano, porque creio que eles têm uma habilidade fenomenal para piaffe e passage. Então, esses cavalos bem treinados — e que possam tirar notas altas em passage, piaffe e piruetas — dão muitas possibilidades aos ginetes sem que eles tenham de investir [altas] somas de dinheiro, sobretudo, para vocês que têm boa criação.

As notas dessas figuras podem contrabalancear os exercícios que são pontos fracos?
Claro! Se o passo é limitado ou se o trote alongado é limitado, não vale a pena sobrecarregar o cavalo ou exigir demais deles algo que, por natureza, ele não pode dar. Mas se deve tratar de conseguir os pontos onde se pode, porque os warmbloods, usualmente, não são fáceis de conseguir passage ou piaffe de oito ou mais. E isso é muito possível com lusitanos.

Voltando ao CDI que julgou, você disse que as apresentações de domingo foram melhores que as de sábado. Pode falar um pouco mais sobre o que viu?
Em termos gerais, me parece que os cavalos têm que mostrar mais reunião e mais self-carriage [autossustentação]. Mesmo em provas de cavalos novos, que queremos ver mais reunião, vimos os cavalos entrarem correndo um pouco. E reunião não é correr. A velocidade é inimiga da reunião. Reunião é quando os cavalos realmente colocam o peso nos posteriores. E, para mim, esse é um dos temas que mais se tem de trabalhar para tirar melhores notas. Para que os cavalos realmente mostrem trote reunido, realmente, estejam em self-carriage [autossustentação] e aí façam os movimentos. Foi o que eu gostei do cavalo que ganhou small tour de domingo. Estava reunido, em self-carriage, houve um problema aqui ou lá, mas em geral foi um cavalo com reunião.

Você também julgou as provas nacionais. Como avalia?
Vi de tudo. Em termos gerais, vi muitos ginetes e amazonas muito bem sentados, elegantes. Eu coloquei muitos 8 na posição de cavaleiro nas provas nacionais, porque vi bons assentos e boas figuras. Para mim este foi o êxito do Brasil nos Jogos Sul-Americanos, quando todos estavam bem sentados e montar corretamente deu bons resultados.

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>>> Leia o que já publicamos sobre a discussão de subir o Pan para big tour:

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