A vida de João Victor Marcari Oliva deu uma reviravolta. O cavaleiro que, até então, residia na Europa treinando e competindo cavalos de sua criação, passou o primeiro semestre no Brasil. A razão é fácil de entender: Oliva foi chamado para montar Biso das Lezírias, puro sangue lusitano importado de Portugal após Barbara Laffranchi o adquirir e que fora montado por Maria Caetano. O plano era colocá-lo nos concursos de adestramento internacionais, os CDIs 2* que serviram de observação para a seleção do Time Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019. Deu certo: hoje Oliva e Biso estão em Lima, convocados entre os cinco conjuntos da equipe brasileira.
“Um amigo meu, Henrique Macedo, que é veterinário do cavalo, me ligou um dia e perguntou se eu tinha interesse de provar o Biso. Como eu estava precisando de um cavalo de São Jorge, aceitei e fui montar o cavalo. Me dei bem com ele e estamos na equipe”, contou ao Adestramento Brasil antes de embarcar para o Peru.
Até decidir passar uma temporada no Brasil treinando Biso, Oliva morava, desde 2014, na Alemanha, onde tem a oportunidade de competir ao lado dos melhores do mundo. Os cavalos e o centro de treinamento permanecem lá, mas em nova localização. No meio do primeiro semestre, ele mudou seu centro de treinamento na Europa, saindo do treinador Norbert van Laak, em Möhnesee, para dividir os estábulos de Irina Zakhrabekova com Maria Caetano, principal representante do cavalo lusitano no adestramento e que por anos treino Biso das Lezírias.
À época, Oliva contou que treinou cerca de sete anos com Norbert van Laak, sendo dois anos no Brasil e depois na Europa. “Devo muito ao Norbert, sou muito agradecido, muito do que eu sei hoje é graças a ele. Vou mudar para a Maria, porque acho que é o momento que eu tenho de fazer algumas mudanças, aprender coisas novas. Venho treinando com o Paulo há algum tempo por causa do Xiripiti e do Biso, então, estou me envolvendo e estou gostando das ajudas do Paulo. Está fazendo bastante diferença”, relatou.
João Victor Oliva retornou ao Brasil neste primeiro semestre para treinar e disputar as seletivas para o Pan de Lima. O conjunto conta com uma equipe de especialistas: Sandra Saboia de Albuquerque, treinadora que fica no Brasil, e Paulo Caetano, pai de Maria, também treina o conjunto periodicamente no Brasil e o acompanha nas competições.
Para o Pan, João leva na bagagem uma medalha de bronze por equipe conquistada nos Jogos de Toronto, mas ele garante que ter a medalha não pesa. “Ela apenas motiva a levar outra pra casa!”, disse. Como o Brasil precisa ficar entre os melhores, isto é, conquistar uma medalha, para garantir a vaga por equipe nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, a pressão pode ser grande nos atletas. Contudo, João não se mostra acanhado com isto. “Não tenho pressão nenhuma, apenas vou dar o meu máximo e que ganhe o melhor! O time está muito bem e o Brasil está bem representado!”, afirmou.
A carreira internacional e a participação nos Jogos Olímpicos Rio 2016, em dois Jogos Equestres Mundiais, no Pan-Americano de Toronto e a medalha de ouro nos Jogos Sul-Americanos de 2014, certamente, contribuem para ele lidar com a pressão. “Acho que, quanto mais competições, mais lições, aprendizado e experiências você vai ganhando. Ainda sou novo e pretendo melhorar muito minha montaria”, disse.
Treinos
“Biso é um cavalo que precisa estar bem aquecido, precisa estar em um ponto top para me apresentar”, explicou, quando questionado acerca do treinamento. O foco foi trabalhar o condicionamento físico para ele chegar a Lima em sua melhor fase. “Se eu cansar ele é ruim e, se ele tiver muita energia, é ruim também. Tenho de acertar o ponto. Os movimentos ele já sabe todos e, próximo ao Pan, não tem muito que você querer arrumar, porque, às vezes, isto acaba estragando. Agora é manter o ritmo do cavalo. O principal é o cavalo estar saudável e contente”, afirmou.
Até embarcar para Lima, João Victor folgava aos domingos e às segundas. Na terça, focava no trabalho de base para tirar um pouco o gás do cavalo. Na quarta, começava a trabalhar os laterais, a encurvatura e a fechar e abrir o cavalo. “Quinta já começo a fazer apoios, mudanças e a começar a deixar o cavalo preparado para na sexta fazer alguns movimentos. Na sexta, trabalho movimentos de prova, não obrigatoriamente no mesmo lugar da prova. E, no sábado, costumo juntar tudo e ver se sai bem a reprise. Também costumo caminhar o cavalo à tarde montado para condicionamento físico”, detalhou.
Paixão por cavalos
O cavalo é um velho conhecido de João. A paixão pelo animal ele herdou do pai, José Victor Oliva, criador de lusitanos. E a inspiração veio de outro cavaleiro: Rogério da Silva Clementino, medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos Rio 2007. “Comecei a treinar o adestramento por causa dele, que recebia prêmios e viajava para fora. Queria ser igual”, contou em entrevista ao Adestramento Brasil antes de disputar os Jogos Equestres Mundiais (WEG). Clementino, que trabalhava na Coudelaria Ilha Verde, de Victor Oliva, foi seu treinador. João também fez aulas com Mauro Pereira da Silva Junior, hoje seu companheiro de equipe.
João começou a carreira com o lusitano Trunfo. “Foi o primeiro cavalo com quem competi; era pequeno, bem típico lusitano”, lembra. Foi campeão brasileiro minimirim, mirim e júnior. Com Portugal, João amadureceu a montada e iniciou nos movimentos avançados. “Foi um dos cavalos que mais marcou, aprendi muita coisa com ele, como mudanças a tempo, piaffe, passage. O Roger [Clementino] me falava: ‘tenta aí fazer GP e vê o que vai dar. Comecei a aprender os movimentos mais fortes”, lembrou.
As disputas no grande prêmio foram com outro animal: Signo dos Pinhais. Com ele, João disputou na Europa as seletivas para WEG de 2014. O conjunto integrou a equipe brasileira e somou 63,843%. No entanto, o cavalo mais importante da vida, João diz que foi outro: Xamã dos Pinhais. “Conquistamos a medalha de bronze no Pan de Toronto, fomos para a final da Copa do Mundo FEI de Adestramento em Omaha (EUA) e competimos nos Jogos Rio 2016. Devo muito a ele”, contou à época. O conjunto conquistou também medalha de ouro nos Jogos Sul-Americanos de 2014 com 70,781% na freestyle e medalha de ouro por equipe, ao lado de João Paulo dos Santos e Veleiro Top, Leandro Silva com Di Caprio e Pia Aragão com Zepelim Interagro.
Na última edição de WEG, em Tryon 2018, João Victor, montando Xiripiti, fez 65,512%, tornando-se conjunto brasileiro com a maior pontuação em WEGs. O recorde anterior, de 63,843%, era do próprio cavaleiro, mas com Signo dos Pinhais na última edição dos jogos.
Foto: divulgação CBH
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